FESTIVAL INDIE 2014: “O SÉTIMO CÓDIGO” É DELICIOSA SUBVERSÃO JAPONESA.

Ao contrário do grande público, que busca preferencialmente sua zona de conforto dentro do cinema, o crítico cinematográfico adora ser confrontado e surpreendido. Bom, pelo menos eu adoro. É gratificante, nesta profissão, sair de casa e ver um filme que, no mínimo, surpreenda.

Assim, foi extremamente gratificante ter assistindo ontem à sessão do filme “O Sétimo Código”, dentro do Festival Indie 2014. Entrei no CineSesc do jeito que eu gosto: sem ter a mínima ideia do que iria ver. Não sabia sequer o país de origem do filme. Apaga a luz, inicia-se a projeção e começam as surpresas.

A cidade é Vladivostok, na Rússia, mas a trama começa envolvendo um casal de japoneses. Uma garota carregando uma grande mala sai correndo atrás de um sujeito, que sequer se lembra dela. Ela lhe diz que eles almoçaram junto uma vez… o que foi suficiente para que ela largasse tudo, abandonasse o Japão, e corresse atrás do rapaz, na Rússia.
“Ela deve ser desequilibrada”, sussurra no nosso ouvido o Grilo Falante que todos temos dentro de nós e que está contaminado pela visão ocidental norte-americana realista verossímil de se ver cinema. Esta é a chave da questão: quer curtir o filme? Mate o Grilo Falante.

“O Sétimo Código” traz uma molecagem intrínseca, mistura de ingenuidade com ironia, que nos faz ficar atônitos dentro do cinema. Ele joga com nossas expectativas sedimentadas, surpreende, ridiculariza o senso comum e dá um pé na bunda daquilo que cobramos como verossimilhança.
Em pouco mais de uma hora de projeção, brinca com a linguagem de filmes de espionagem, ostenta uma trilha sonora paródica, discute rapidinho a questão do poder e do dinheiro relacionados à felicidade (juro!) e naquilo que “deveria” ser o seu ápice, com os clássicos tiroteios e explosões ocidentais, opta por deixar a câmera distante de tudo.

Uma deliciosa subversão.

Não há previsão de distribuição de “O Sétimo Código” no circuito comercial brasileiro. O roteiro e a direção são de Kyioshi Kurosawa. Que não tem nada a ver com o célebre Akira. Nem no parentesco, nem no estilo de filmar.