FESTIVAL LATINO 2018: “COMO FOTOGRAFEI OS YANOMAMIS” TEM ESTREIA HOJE.

Por Celso Sabadin.

Acreditam algumas nações indígenas que a fotografia (e, por extensão, a filmagem) rouba a alma do ser fotografado. Pessoalmente percebi isso durante uma viagem à Bolívia, onde os nativos me viravam o rosto cada vez que eu lhes apontava minha câmera (só tenho fotos de índios bolivianos de perfil). Uns me diziam que era a crença deles. Outros, mais céticos, afirmavam que eles só aceitavam ser fotografados de frente se eu lhes desse algum dinheiro. Não paguei pra ver.

O fato me veio à lembrança ao assistir “Como Fotografei os Yanomani”, de Otavio Cury, documentário que estreia hoje (27/07) às 19:00 horas no CineSesc de São Paulo, dentro da programação do Festival de Cinema Latino Americano.

Tudo começou em 2013, quando Cury viajou até os limites das terras Yanomami, na Serra de Surucucu, Roraima, próximo à fronteira da Venezuela. Foi ali que o cineasta começou a registrar os abismos culturais existentes entre os indígenas e os profissionais de saúde que lá estavam para cuidar dos nativos. Remédios de brancos para doenças de brancos que não existiam entre os índios antes dos próprios brancos contaminarem a região, somados à misturança de rituais e pajelanças de variados credos formam, dentro do filme, um fascinante caldeirão cultural repleto de nuances, sensações e conflitos. Com direito a uma criança indígena batizada com o nome de… Sabonete. Durante as filmagens, o cineasta notou que sua própria câmera passou a ser protagonista do choque entre culturas que, a princípio, ela deveria apenas registrar. Motivo: a crença milenar das câmeras atuando como ladras de almas. Inicia-se então um novo enfoque dentro do longa, abordando esta questão a um mesmo tempo mística e encantadora.

O final – sem querer dar spoiler – é um achado antropológico/cinematográfico/antropofágico,  ao registrar a surpreendente inauguração de uma UBSI – Unidade Básica de Saúde Indígena – que mistura santos católicos, danças tribais, Hino Nacional, índias de sutiã, discurso político, Pai Nosso, e um punhado de nativos – sem medo de terem suas almas roubadas pelas câmeras – registrando tudo com seus celulares.

Genial.