“FILHO-MÃE”, O SILÊNCIO DO INOCENTE.

Por Celso Sabadin.

Uma inusitada coprodução entre Irã e República Tcheca continua em cartaz nos cinemas e merece ser conferida: trata-se de “Filho-Mãe, segundo longa ficcional da diretora, documentarista e ativista iraniana Mahnaz Mohammadi.

Dividido em duas metades já sugeridas pelo próprio título, “Filho-Mãe” mostra/denuncia o machismo estrutural de uma sociedade que, além de não conseguir sequer admitir a existência de uma mulher sem marido, ainda conspira para que tal situação seja “consertada”. E a qualquer custo.

Raha Khodayari interpreta Leila, mulher forte da classe trabalhadora, viúva, que faz o possível e o impossível para equilibrar sua vida entre o trabalho, os afazeres domésticos, e seu casal de filhos. Kazem (Reza Behbudi), o motorista de ônibus da empresa na qual Leila trabalha, que se casar com ela, lhe oferece insistentemente uma suposta tranquilidade financeira, mas lhe impõe uma absurda condição: que o pequeno Amir (Mahan Nasiri, ótimo), filho de Leila, não vá morar com eles, pois “não há espaço” para todos, segundo o proponente.

Pressionada por uma vizinha de poucos escrúpulos e pela sua desesperadora situação, Leila precisará pensar numa solução para livrar-se do seu próprio filho.

O perturbador roteiro de Mohammad Rasoulof traça um dolorido e cruel paralelo entre a irracionalidade da situação e a obrigatoriedade do silêncio, construindo uma narrativa fundamentada na incomunicabilidade. Laços desfeitos e relacionamentos interrompidos em função de hipocrisias sociais e pressões econômicas comandadas por um mundo regido pelos homens fazem a tônica deste belíssimo trabalho premiado em festivais em Praga, Istambul e no próprio Irã.

Interpretações sólidas e direção sóbria completam as muitas qualidades deste bem-vindo “Filho-Mãe”.