FINGINDO TRANSGREDIR,”FAMÍLIA DO BAGULHO” OPTA PELO CONSERVADORISMO.

Como filme, nada acrescenta. Como entretenimento, é simpático. Como comédia, é mediano. Mas mesmo assim “Família do Bagulho” levanta uma questão no mínimo interessante: como o cinema americano perdeu totalmente a capacidade de transgredir, mesmo quando tenta fazer algo transgressor. Ou pelo menos finge que tenta.

Depois que “Se Beber Não Case” se transformou num grande sucesso de bilheteria (gerando inclusive duas continuações), como sempre acontece começaram a aparecer clones tentando seguir o caminho das comédias escrachadas para maiores de 18 anos. A comédia escrachada já era um enorme filão adolescente há décadas (praticamente desde “Porky´s”), mas havia chegado a hora de transportá-la para o universo adulto, buscando, assim, outra fatia de mercado.

“Família do Bagulho” é um destes clones. Ou tenta ser. Ousa um pouco nos palavrões, rascunha situações que sugerem um sexo mais picante, tenta se posicionar como transgressora e, no final das contas, novamente, se rende de peito aberto à caretice do mercado. Desemboca desbragadamente no conservadorismo, bebe em grandes goles dos mesmos preconceitos que fingia combater, e termina cedendo a todas as concessões comerciais possíveis, fazendo com que o público saia do cinema, no final da sessão, tranquilo por saber que felizmente ainda vivemos na nossa mesma América puritana da época das 13 Colônias. Como não podia deixar de ser, o único policial corrupto do filme é exatamente o mexicano.

E olha que o argumento até poderia ter rendido um filme interessante. Um pequeno traficante de drogas se vê obrigado a realizar um grande contrabando internacional, para o qual não se sente preparado. Pensa, então, que um disfarce perfeito para encobrir a operação seria montar uma falsa e típica família americana, da qual nenhum policial desconfiaria. O rapaz reúne então um jovem nerd, uma moradora de rua e uma stripper para ajudá-lo em seu plano. Uma pequena trupe de perdedores que terão suas vidas mudadas pela experiência. Bem intencionado, o filme encareta completamente no final, colocando a perder toda a sátira e a ironia que ensaiava no início.
No elenco, Jennifer Aniston, Emma Roberts, Jason Sudeikis e Thomas Lennon.