“FLOW”, E A IMPORTÂNCIA DE SENTIR UM FILME.

por Rafael G. Bonesi.

Na animação “Flow”, do diretor letão Gints Zilbalodis, somos submersos junto aos personagens em um mundo encantador e desconhecido. Através das aventuras do nosso protagonista, “Gato”, acompanhamos todo o planeta ser inundado, colocando o personagem em uma jornada por sobrevivência ao lado de outros animais.

O detalhe mais encantador desse filme vem da ausência de qualquer explicação sobre esse mundo: não há sequer a intenção de que algo seja compreendido a respeito. Gints nos joga nessa realidade como quem diz: “não importa o que aconteceu antes, preste atenção no que vem a seguir”, e assim somos engolidos por essa narrativa tão cativante na qual nem os personagens parecem se importar com o porquê de estarem em tal situação.

Em decorrência dos avanços da internet e dos conteúdos sensacionalistas, surgiu no atual público do cinema essa necessidade de filmes que possam ser explicados, resultando em um dos maiores inimigos do cinema: a mente fechada de um espectador. “Flow” felizmente foge desse problema ao ignorá-lo por completo, conduzindo sua narrativa de forma que busca abrir todas essas mentes bloqueadas e sedentas por explicações. Gints ao ser questionado sobre uma das últimas sequências do filme, chegou a afirmar que não queria que o público buscasse por respostas, mas sim que sentisse algo com a cena.

Nessa correnteza de sentimentos criada pela obra, nada precisa ser dito, nada precisa ser explicado, apenas é necessário sentir. Quebrando qualquer barreira linguística neste filme delicado e sem falas, usando animais em seu conto fabuloso, o diretor consegue comunicar sua mensagem de empatia e perseverança sem que ninguém precise efetivamente “entender” coisa alguma. Mostrando o poder que o cinema possui.