“FOLHA CORRIDA”: NÃO DÁ PRA NÃO VER.

Por Celso Sabadin.

Que historicamente os grandes veículos de comunicação – sejam eles da imprensa falada, escrita, televisionada, virtual ou seja lá o que for – sempre privilegiam a direita em detrimento da esquerda, isso não é novidade nenhuma. Pelo menos para quem tem um mínimo de senso de observação.

Não se trata exatamente de uma posição política, mas sim mercadológica, posto que praticamente todos eles fazem o que for possível (e às vezes o que for impossível também) para agradar aos seus poderosos anunciantes, que evidentemente nada têm de socialistas. Pelo contrário.

Daí a emprestar carros de entrega de jornais para acolher agentes armados da ditadura em emboscada fatal contra guerrilheiros esquerdistas já vai uma distância muito grande.Daí a promover festas particulares com torturadores assassinos também vai outra distância muito maior que um mero apoio editorial.

São essas e outras denúncias que a série “Folha Corrida” reforça contra o grupo Folha, editores do jornal Folha de S. Paulo e da extinta Folha da Tarde.

Tais denúncias não são exatamente uma novidade, posto que já vieram a público em outras oportunidades, em livros e documentários. Agora, porém, tudo está mais embasado pela pesquisa “A responsabilidade de empresas por violações de direitos durante a Ditadura: o caso Folha de S.Paulo”, realizada com o apoio do Ministério Público Federal. Durante dois anos, a equipe composta por Ana Paula Goulart Ribeiro (UFRJ), Amanda Romanelli (PUC-SP), André Bonsanto Dias (UEM), Flora Daemon (UFRRJ), Joëlle Rouchou (FCRB) e Lucas Pedretti (UERJ) aprofundou as investigações sobre denúncias levantadas no âmbito da Comissão Nacional da Verdade. A pesquisa resultou num inquérito aberto pelo Ministério Público Federal e agora na série “Folha Corrida”.

A série conta com quatro episódios de cerca de 30 minutos e investiga, através de depoimentos e documentos, como o Grupo Folha deu apoio à repressão pós 1964, contratou militares e policiais para atuarem na empresa, monitorou e demitiu ilegalmente jornalistas, emprestou carros de distribuição de jornais para perseguir, sequestrar e matar aqueles que lutavam pela democracia no país e se beneficiou economicamente de ligações com a ditadura civil-militar-empresarial daquele triste período.

Com direção de Chaim Litewski (o mesmo do imprescindível “Cidadão Boilensen”), a série será disponibilizada gratuitamente através da plataforma do Instituto Conhecimento Liberta (icl.com.br/folhacorrida), a partir das 20h00 deste domingo, 27/04.

Trata-se de uma pesquisa da maior importância para o fortalecimento da nossa tão fragilizada democracia, e que nos deixa com duas perguntas em mente: (1) haverá a abertura ou reabertura de algum processo do Ministério Público contra o Grupo Folha? E (2) quando os documentários do ICL perceberão o quanto é cansativo um filme que toca trilha musical durante o seu tempo inteirinho de projeção?

 

Quem dirige

Chaim Litewski, nascido no Rio de Janeiro, é formado na Polytechnic of Central London (Westminster University) com especialização em cinema, propaganda e conflito. Entre suas experiências, destacam-se atuações na TV Globo (Londres e Rio de Janeiro), direção da Rádio e TV Educativa do Piauí e colaborações com grandes canais como CBC (Canadá), RAI (Itália) e NBC (Estados Unidos), entre muitos outros. Trabalhou na ONU, em Nova York, como produtor de televisão e chefe de produção audiovisual entre 1991 e 2016. Produziu reportagens sobre emergências humanitárias, direitos humanos, manutenção de paz e meio ambiente em quase 100 países. Sua obra inclui também o documentário premiado “Cidadão Boilesen”, (É Tudo Verdade, 2009), exibido em diversos festivais no Brasil e no exterior. Atualmente, Chaim Litewski se dedica a documentários que abordam, principalmente, a história recente do Brasil, com títulos como “Golpe de Ouro” (2022), “A Guerra da Lagosta” (2024), e Brasil para Principiantes (2025).  Foi produtor executivo do documentário “The Quiet Diplomat” (EUA, 2024), sobre o ex-secretário geral da ONU, Ban Ki-moon. Em 2023, lançou o documentário investigativo “Morcego Negro”, dirigido com Cleisson Vidal, sobre Paulo Cesar Cavalcante Farias (PC Farias), Menção Honrosa, É Tudo Verdade, 2023.