“FORA DA LEI” MOSTRA FORTE RELATO SOBRE A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA DA ARGÉLIA.

Os sangretos e duradouros conflitos que envolveram o processo de dominação e colonização da Argélia pela França formam o mote principal do vigoroso “Fora da Lei”, coprodução franco-belgo-argelina escolhida para representar o país africano no Oscar de língua não inglesa.

A trama se centraliza na saga de três irmãos: Abdelkader (Samy Bouajilla, de “London River”), Saïd (Jamel Debbouze, de “O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain”) e Messaoud (Roschdy Zem, de “Um Heroi do Nosso Tempo”). Ainda crianças, eles foram expulsos das terras africanas de seus ancestrais e se viram obrigados, cada qual à sua maneira, a lutar por um destino melhor dentro da própria França que os colonizou. Messaoud se alista no exército e, ironicamente, luta ao lado dos franceses na Indochina. Abdelkader se torna lider da ALN, movimento pela independência da Argélia, enquanto o apolítico Saïd busca a fortuna explorando a prostituição, os cassinos e os clubes de boxe. A guerra pela independência argelina, contudo, acabará por unir novamente os irmãos, ainda que de maneira trágica.

O filme oscila entre bons momentos e cenas não tão inspiradas. Um excesso de didatismo faz com que “Fora da Lei” peque na profusão de legendas supostamente esclarecedoras, que fazem questão de estampar na tela todas as datas e até as estações do ano em que os eventos ocorreram. Um desnecessário excesso de zelo, mesmo porque existem formas muito mais cinematográficas e criativas de realizar passagens de tempo que simplesmente desfilando letras pela tela. Há ainda uma certa estilização novelística desta ou daquela cena que acaba pendendo para um exagero sentimental. Porém, nada que tire os méritos deste grande filme que discute um importante tema que volta com força total nesta Europa de hoje, repleta de tensões sociais envolvendo a imigração.

A visão do roteiro sobre o conflito é das mais abrangentes, buscando suas origens nas primeiras décadas do século 20, durante o processo de colonização, sem deixar de lado as feridas abertas pelo período de ocupação nazista na França, nem a guerra da Indochina, estopim da presença americana no Vietnã. Com boa reconstituição de época, “Fora da Lei” monta um belo painel histórico de uma época que ainda não terminou.

Vez por outra, o estilo da direção flerta com Coppola e seu “O Poderoso Chefão”, seja na busca pelo épico político-social-familiar, seja nos momentos de narrativas cruzadas de mesmo tempo e diferentes espaços fílmicos.
Isso sem contar que temos aqui uma rara e bem-vinda visão da própria Argélia sobre a questão.

Nascido em Paris, o diretor Rachid Bouchareb (que também escreveu o roteiro do filme) é de origem árabe, e “Fora da Lei” é seu terceiro filme distribuído no Brasil, precedido de “Dias de Glória” e pelo ótimo “London River – Destinos Cruzados”.
Veja todos eles. E procure também assistir ao histórico “A Batalha de Argel”, sobre o mesmo tema, obra prima que Gillo Pontecorvo dirigiu em 1965, ainda no calor recente dos acontecimentos.