FRANCO-PORTUGUÊS “TECHNOBOSS” SATIRIZA AS RELAÇÕES DE TRABALHO.

Por Celso Sabadin.

Com o mundo em profunda transformação e o Capitalismo dando sinais de esgotamento terminal, o cineasta português João Nicolau optou por uma visão cinematográfica bastante diferenciada ao abordar as atuais relações de trabalho em seu novo longa “Technoboss”:  uma comédia dramático-romântica satírica musical.

O filme fala de Luís Rovisco (Miguel Lobo Antunes,  jurista e gestor cultural aposentado, estreando como ator), funcionário de uma empresa de segurança, prestes a se aposentar. Percorrendo Portugal para visitar seus clientes, Luís não tem mais a mesma memória nem a mesma agilidade de tempos anteriores, mete-se em situações um pouco embaraçosas, tem lá suas dificuldades com as novas tecnologias do futuro, ao mesmo tempo em que tenta fazer uma ponte com o passado, ao se reencontrar com uma antiga paixão.

Para segurar toda essa barra e manter a sanidade, só mesmo cantando. Mas não aquele canto encenado da estética falseada dos musicais norte-americanos. Nicolau busca a expressão desglamurizada e sincera do homem comum, de um personagem que mantém um leve sorriso quase imperceptível na beirada dos lábios, enquanto o mundo desmorona à sua volta. Um cantarolar irônico sintonizado com o senso de humor muito particular dos nossos colonizadores históricos que quase nunca é cá compreendido pelos nossos colonizados culturais.

“Neste filme só interessa o que é relativo ao confronto da personagem principal com tudo o que, mal ou bem, tem ainda capacidade de movimento: um reencontro amoroso, uma canção, um gato, um filho, um neto, uma cancela ou uma perna que dói”, explica o diretor. Ou não explica.

João Nicolau nasceu em Lisboa. Trabalha como realizador e montador e, por vezes, como ator e músico. Seus filmes são regularmente exibidos nos mais prestigiados festivais de cinema e cidades como: Cannes, Veneza, Locarno, São Paulo, Belfort, Viena, Busan, Buenos Aires, Sevilha, entre outros. Sua filmografia inclui, Technoboss (2019), John From (2015), Gambozinos (2013), O Dom das Lágrimas (2012), A espada e a Rosa (2010), Canção de Amor e Saúde (2009), e Rapace (2006).

“Technoboss” estreou no Festival de Locarno, ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Sevilha, passou pela Mostra Internacional de S. Paulo e, recentemente, foi exibido no Festival do Rio