FUNDAMENTAL PARA A COMPREENSÃO DA ATUALIDADE, “DEDO NA FERIDA” NÃO FALTA NEM DESENHAR.

Por Celso Sabadin.

Para compreender melhor os fatos que levaram ao show de horrores que vimos no ótimo documentário “O Processo”, o melhor caminho e assistir a outro ótimo documentário: “Dedo na Ferida”, de Sílvio Tendler, um dos mais importantes e atuantes documentaristas brasileiros. Ao contrário do que possa parecer, não se trata, aqui, de um filme sobre a política brasileira de maneira específica, mas sim de uma excelente radiografia de todo um panorama internacional que prova, por A + B, porque as forças do capitalismo mundial jamais permitiram a permanência de um governo de cores humanistas ou sociais no Brasil. Nem em lugar nenhum.

Através de uma detalhada análise tecida por 19 entrevistas – 12 brasileiras e 7 internacionais – “Dedo na Ferida” esmiúça de forma clara e didática os mecanismos que, desde os anos 1970, vêm transformando o antigo capitalismo produtivo no atual capitalismo especulativo. Ou, trocando em miúdos, como cada vez mais os conglomerados econômicos tomaram o lugar dos governos. Ou, trocando em miúdos ainda mais miúdos, como a luta Capitalismo x Comunismo, dos anos 1960, se transformou hoje na disputa Neoliberalismo contra Democracia.

Ricos cada vez mais ricos, pobres cada vez mais pobres, interferência irreversível do capital sobre os governos supostamente democráticos com a cumplicidade criminosa da mídia, e lições não aprendidas da Quebra da Bolsa de 1929 constroem esta trama de terror que vem dilapidando os traços de Humanidade das nossas sociedades contemporâneas. E “Dedo na Ferida” faz jus ao seu título ao expor todo este processo de forma lúcida e acessível ao grande público, sem panfletarismos nem a necessidade de recorrer ao ininteligível idioma Economês.

Eu poderia dizer que “Dedo na Ferida” só falta desenhar, para usar a expressão popular. Mas não falta. Até desenhar o filme desenha. Só não vai entender quem realmente não quiser.

Entre os depoentes do filme, encontram-se o diplomata e ex-ministro Celso Amorim, o economista Paulo Nogueira Batista Jr., (Banco dos Brics), os professores Ladislau Dowbor, Laura Carvalho e Guilherme Mello e ativistas como Guilherme Boulos (MTST) e João Pedro Stédile (MST). Entre os estrangeiros, falam o ex-ministro grego Yanis Varoufakis, o cineasta Costa-Gavras e os intelectuais Boaventura de Sousa Santos (Universidade de Coimbra, Portugal), David Harvey (University of New York, Estados Unidos) e Maria José Fariñas Dulce (Universidade Carlos III, Espanha). Um time de peso.

Imperdível.