“FÚRIA” (1936), MAIS ATUAL QUE NUNCA.

Por Celso Sabadin.

Situações absolutamente frágeis e circunstanciais fazem com que o simpático Joe Wilson (Spencer Tracy, o melhor ator para papéis “simpáticos” dos anos 1930 e 1940) seja detido para averiguações na cadeia de uma pequena cidade do interior. Enquanto aguarda uma investigação mais detalhada, que certamente o soltaria, surge no lugarejo o rumor que Joe seria um perigoso assassino que a polícia procurava há algum tempo. Apoiado por fake news, o boato se alastra como fogo em mato seco, e num piscar de olhos a frágil delegacia local se vê cercada por um bando descontrolado de pessoas tomadas por um destrutivo ódio irracional. O que seria uma simples averiguação de rotina se torna um inferno de destruição.

Baseado em argumento original de Norman Krasna, “Fúria” levanta um tema impossível de ser dissociado do nazismo que já apavorava a Europa naquele 1936: o linchamento humano, moral (e, no caso, literal) sem qualquer tipo de prova, motivado apenas pelo clamor popular. Uma forte crítica à intolerância, ao ódio e à ignorância que explodem quando o comportamento humano se rende à cegueira das massas. E pior: o roteiro foi baseado em caso real acontecido três anos antes, na California.

Na segunda parte do filme – sem querer dar spoiler – entra em pauta outra discussão igualmente palpitante: os limites (ou não) da vingança.

A força demolidora de “Fúria” se potencializa ainda mais com a direção nunca menos que precisa de Fritz Lang, ele mesmo um cineasta fugido do nazismo que desde 1934 reiniciara sua carreira em cinematografias mais livres. Após sair da Alemanha e filmar “Coração Vadio” na França, “Fúria” é o primeiro longa de Lang em sua fase hollywoodiana.

Curiosidade:  o cãozinho do personagem de Tracy é o mesmo que, três anos depois, “estrelaria” no sucesso “O Mágico de Oz”.