“GALERIA F”, MAIS UM GRITO DE LIBERDADE CONTRA OS GOLPES.

Por Celso Sabadin.

Escrever críticas sobre filmes cujo tema é o golpe de 1964 sempre significou, para mim, fazer um resgate histórico necessário como advertência. Para que nunca mais nada parecido pudesse acontecer neste país. Após o golpe de 2016, escrever este tipo de crítica é um ato que passou a ser revestido de uma amarga mistura de dor e indignação:  as advertências não funcionaram e estamos vivendo um novo ciclo de horror em nossa História. Quando o terror ditatorial parecia morto e enterrado, ele ressurge com todo o seu cinismo, e fortemente alimentado pelo imobilismo popular.

Assim, tornam-se cada vez mais necessários os filmes – ou qualquer outro ato – que nos chacoalhem e nos façam perceber como qualquer tipo de desmando ditatorial é indelevelmente nocivo a toda uma sociedade. “Galeria F” é um destes filmes. Com direção de Emília Silveira e roteiro de Margarida Autran, “Galeria F” refaz a trajetória de Theodomiro Romeiro dos Santos, rapaz que começou a combater a ditadura militar logo aos 14 anos de idade. Capturado pelos militares aos 18, ele reage à prisão e mata um militar, tornando-se assim o único brasileiro a receber sentença de pena de morte.  Quarenta anos depois, os passos desta história são revividos por Guga, filho do guerrilheiro,  que na época era apenas um bebê e entra assim pela primeira vez em contanto com a verdadeira história do pai.

Mentiras, traições, torturas inimagináveis, sofrimento sem fim, injustiças, todos os elementos  presentes nos bastidores de governos ilegítimos – seja em 1964 ou em 2016 – são relembrados em “Galeria F”, mais que um simples documentário, mais um ato político contra todas as ditaduras.  Numa demonstração inequívoca da incongruência congênita e endêmica que sempre marcou nosso país, “Galeria F”, um filme sobre a liberdade, tem coprodução da Globo News, justamente uma das emissoras de TV que mais apoiou o Golpe de 2016. Definitivamente, o Brasil não é para amadores.

A estreia foi quinta, 30 de março, um dia antes do aniversário do golpe de 64.