GESTO OU FILME OBSCENO?

Quem acompanha meus textos, sabe que adoro “viajar” nas matérias. Às vezes, acho até que deveria ter sido agente de turismo ao invés de crítico de cinema, tanto que eu viajo. Mas, tudo bem. Cinema é para isso mesmo: soltar a mente, pensar, rir, chorar, se emocionar, enfim, viajar.

Porém, o filme “Gesto Obsceno”, produção de 2006 dirigida por Tzahi Grad que chega agora aos nossos cinemas, me proporcionou uma viagem não muito agradável. Explico: a trama fala de Michael (Gal Zaid), um escritor em crise de criatividade, sujeito meio sem atitude, um pouco “morto” para a vida, por assim dizer. Até o dia em que um simples incidente acontecido no trânsito louco da vida urbana faz sua esposa, Tamar (Keren Mor), ferver de raiva. Ela quer que o maridão tome suas dores. Ele, por sua vez, procura os métodos legais para punir aquele que julga ser culpado pelo incidente. E nada consegue. Tamar continua pressionando. Michael se vê acuado pela esposa e desiludido pela falta de poder das autoridades constituídas.

Sim, já vimos coisa parecida. Em “Um Dia de Fúria” (1992) e “Sob o Domínio do Medo” (1971), só para citar dois exemplos. E, de certa forma, sabemos como a coisa acaba. Mas o caso de “Gesto Obsceno” é um pouco diferente, pois vivemos tempos diferentes. Sua mensagem parece das mais nítidas: ganha quem bater mais forte, vence quer der mais porrada ou – no caso específico do filme – quem estiver melhor armado, numa clara referência aos países eternamente em guerra lá pelas bandas do lado direito do mapa mundi.

Na minha “viagem” (opinião), é um filme bem fascistão. E pior: travestido com a linguagem de um cinema mais artístico, que geralmente exala pensamentos mais humanistas. Gesto Obsceno não tem aquela estética truculenta que ganhou força e peso na era Reagan (lembra dos Chuck Norris da vida?). Pelo contrário: ele busca um estilo mais intimista para envolver aos poucos o espectador desavisado e desfechar o golpe final repleto de rancor, vingança e belicismo. O filme é mais obsceno que o gesto que o motiva e que o batiza.

E mesmo assim ganhou o prêmio a crítica no Festival de Miami. Que medo!