“GIGANTE” PELA PRÓPRIA NATUREZA.

Vivemos numa era de cada vez mais intensa comunicação virtual, e cada vez mais raros contatos pessoais. Um momento social que tem rendido bons filmes e boas reflexões. E entre estas belas reflexões cinematográficas soma-se agora o envolvente “Gigante”, co-produção entre Uruguai, Argentina, Alemanha e Espanha, vencedora de três prêmios no Festival de Berlim, incluindo o Grande Prêmio do Júri.

O filme narra com extrema simplicidade o cotidiano de Jara (Horacio Camandule), segurança de um super mercado em Montevideu acostumado a ver a vida através de monitores de vídeo. Durante o dia, ele dorme, assiste televisão ou joga videogame. À noite, acompanha toda a movimentação do mercado onde trabalha através do circuito interno de monitoramento. Jara quase não fala com ninguém, não mantem relações pessoais, praticamente não interage. Uma vítima da timidez e do nosso tempo.
Em suas vigílias noturnas pelos monitores de segurança, ele acaba se apaixonando pela faxineira Julia (Leonor Svarcas). Aliás, pela imagem de Julia que, por sua vez, sem ter o mínimo conhecimento da paixão platônica que provoca, também busca companhia no mundo virtual das lan houses. A paixão de Jara torna-se cada vez mais obsessiva, mas para concretiza-la ele terá de romper barreiras profundas e – talvez, quem sabe – se aventurar pelo perigoso mundo das relações reais.

“Gigante” tem o ritmo da noite, habitat favorito de seu protagonista: reflexivo, silencioso, deliciosamente relaxante e ao mesmo tempo misterioso. É um filme tão calado e introspectivo quanto o seu personagem principal. Ao não se apoiar na palavra falada, o diretor Adrián Biniez da uma aula de cinema, de história contada através da câmera e de seus ótimos atores.

O filme tem vários pontos em comum com o também premiado (e também uruguaio) “Whisky”, tanto em termos técnicos, como em termos estéticos. Os estéticos já foram citados: ritmo reflexivo, introspecção, uma certa mordacidade, um humor corrosivo e uma reflexão social sagaz. Quanto aos técnicos, o diretor de “Gigante” fez uma pequena participação como ator em “Whisky” (como o personagem Dardo), além do fato de Fernando Epstein ter sido o editor e o produtor de ambos os filmes.

Uma última curiosidade: o excelente grandalhão Horacio Camandule, que faz o papel título, não é ator profissional, mas sim um professor de escola primária, descoberto pela produção do filme.