“GINGER & ROSA”, ANTES QUE O MUNDO ACABE.

Londres, 1962. Os Beatles estavam prestes a explodir. E talvez o próprio mundo, que acompanhava com ansiedade as notícias da Guerra Fria. Hoje, sabemos que os Beatles explodiram e o mundo não. Mas as duas amigas inseparáveis, Ginger (Elle Fanning) e Rosa (Alice Englert), ainda não tinham como saber. É neste clima de medo, insegurança, e a apavorante sensação de que nada mais pode existir amanhã, é que as garotas, que se conhecem desde antes de nascer, iniciam seus adolescentes ritos de passagem.

Como é dramaturgicamente “obrigatório” neste tipo de roteiro, as protagonistas são diferentes e até conflitantes entre si. Enquanto Ginger assume uma atuante postura política diante dos perigos da Guerra Fria, Rosa se refugia na religião e fecha os olhos para os problemas externos.
Ambas têm pai ausente. A ausência do pai de Rosa é literal. A do pai de Ginger é prática: trata-se de um homem de alma libertária e anárquica que não acredita nas convenções sociais, casamento inclusive. Será exatamente sobre este ponto que se estabelecerá o grande e principal conflito entre as meninas.

Coerente com o tema e a ambientação, a diretora Sally Potter (a mesma de “Orlando, uma Mulher Inesquecível”) confere ao seu filme um tom sombrio e introspectivo. Belo. Formado por cores escuras de uma Inglaterra que mesclava o medo do pós-guerra com a ansiedade de uma revolução cultural que ainda não começara. Uma época de transições, nos mais variados sentidos, tanto para o macroambiente como para o microcosmo das protagonistas. São janelas fechadas, ambientes claustrofóbicos, paredes com limo e ruas nubladas que emolduram o início de uma década que mudaria o mundo.

Brincar no balanço de mãos dadas talvez já não seja mais possível no novo mundo – interior e exterior – de Ginger e Rosa. Mesmo depois de saber que o mundo não acabou, certamente elas perceberão que o delas, assim como elas o conheceram, se não terminou, pelo menos foi alterado de forma radical e irreversível.

Muitas vezes, o preço da maturidade é dolorosamente alto.