GOLPISTA MIMADO TOMA O PODER, ESCRAVIZA O POVO E SE DÁ MAL. NO FILME “DEUSES DO EGITO”.  

Por Celso Sabadin.

Num primeiro momento, “Deuses do Egito” causa estranhamento. Tudo é muito over, exagerado, com direção de arte de gosto pra lá de duvidoso, e atores meio caricatos e novelescos. A cena inicial da coroação do rei consegue ser mais cafona que a chegada de Elizabeth Taylor em Roma, no clássico kitsch “Cleópatra”. Num segundo momento, porém, para quem estiver disposto a entrar na brincadeira, até dá para curtir. E perceber que o diretor Alex Proyas (de “Eu, Robô”) na verdade está apenas cumprindo um dos mandamentos mais fundamentais da cultura de massa, que é misturar tudo na vala comum do consumo fácil ao unir – ou pelo menos tentar – mitologia egípcia com linguagem de blockbuster e estética de videogame.

Basicamente, a trama é um golpe de estado provocado por ciumeiras familiares. No momento em que o deus Horus (Nikolaj Coster-Waldau) deveria ser coroado rei do Egito, seu tio Set (Gerard Butler) aparece destruindo tudo, matando o próprio irmão Osiris (Brian Brown), cegando Horus e usurpando-lhe a coroa com violência, sem direito sequer a pedido de impeachment. No poder, o golpista Set escraviza o povo egípcio e começa um processo de eliminação dos demais deuses. Mesmo cego, Horus precisa agora restabelecer a ordem, e para isso terá de contar com a ajuda de um simples mortal, o simpático ladrão Bek (Brenton Thwaites). Começa aí uma aventura incessante e repleta de efeitos especiais seguindo os famosos passos da teoria da Jornada do Herói de Joseph Campbell.

Obviamente o filme busca o público jovem, exagerando na espetacularização das lutas e batalhas, sempre em busca do grande e definitivo momento-heróico-adrenalina, salpicando algumas cenas com humor adolescente, e explorando até o limite a já citada estética de game. Ele até se sai bem aqui e ali, como na boa luta de Horus e Bek contra as duas serpentes gigantes. Também como não poderia deixar de ser, há ainda o “momento mensagem moral”, que aqui se resume em substituir a moeda de troca que compra a passagem dos egípcios para o mundo imortal: saem o ouro e as riquezas, entram os atos bondosos. Ou seja, pela visão do filme, Horus é mais católico que protestante. Claro que a afirmação não faz sentido num filme mitológico que não acontece neste plano nem neste tempo. Mas ninguém aqui parece preocupado com sentido, e é assim que o filme deve ser visto: como uma grande diversão, um trem fantasma em ritmo de montanha russa, um cinema-Hopi Hari com finalidade meramente comercial.

E funcionou? Pior que não. Dos US$ 140 milhões investidos em sua produção (segundo estimativa do site Imdb), apenas 10% retornaram às bilheterias na semana de estreia, o que sinaliza números catastróficos. Seus produtores agora terão de entrar no mundo pós-vida pagando apenas com atos bondosos…

O filme está em cartaz no Brasil. Não por muito tempo.