‘GONZAGA’ É PARA LOTAR OS CINEMAS.

Filmes que tratam das relações entre pai e filho costumam ser emotivos e emocionantes. Se o filme em questão for dirigido por Breno Silveira, então, as lágrimas estão garantidas. Diretor de “2 Filhos de Francisco” e “À Beira do Caminho”, Breno domina com competência a linguagem do melodrama. Não tem medo de ser sentimental (não sentimentalóide) e sabe como manipular os elementos cinematográficos que provocam comoções nas plateias. Em resumo, “Gonzaga – de Pai pra Filho” tem tudo para ser um dos grandes sucessos de bilheteria do ano.
Apoiado por uma produção caprichadíssima que garante uma vistosa reconstituição de diferentes épocas, o filme ainda tem o mérito de contar a emocionante história não só de um, mas de dois fortes ícones da nossa música popular: Gonzagão e Gonzaguinha, que durante décadas encantaram os corações brasileiros, ao mesmo tempo em que, entre si, travavam amargas batalhas de solidão e relações mal resolvidas.

Com cores fortes, luzes brilhantes, músicas inesquecíveis e interpretações espetaculares, Breno Silveira fez um filme de encher os olhos.

Há, contudo, um forte senão: uma excessiva preocupação em deixar tudo muito didaticamente explicado para um tipo de espectador que, talvez, esteja mais acostumado à linguagem televisiva, em detrimento da cinematográfica. Exemplo: em determinada cena, vemos Gonzaga subir na laje de um cinema (onde se lê o nome Pax), e fazer um show para as pessoas que estavam na rua e não puderam entrar no espetáculo que aconteceria dentro do mesmo cinema. Tudo muito bem produzido e dirigido. Até o momento em que uma legenda invade a cena: “Show na lage do Cine Pax”. Totalmente redundante e anti-cinematográfico. Uma redundância didática que se repete em vários momentos, com várias legendas e explicações, tirando a fluidez da narrativa e empanando o brilho da fantasia do cinema. A inclusão de fotos e filmes reais entremeando as cenas ficcionais e a preocupação de deixar tudo “televisamente correto” (carros que atravessam o sertão e permanecem brilhantes como se tivessem acabado de sair do lava rápido, por exemplo) também não contribuem muito para a verossimilhança cinematográfica da obra.

Mas esta reverência ao didático em detrimento ao dramatúrgico certamente não incomodará o grande público, que além de tudo será brindado também com um elenco de grande talento e empatia. São quatro atores só para viver Luiz Gonzaga. Land Vieira interpreta o personagem entre 17 e 23 anos. O carismático Chambinho do Acordeon, acordeonista na vida real e escolhido entre mais de 5 mil candidatos, faz Gonzagão entre 27 e 50 anos. Júlio Andrade, entre 35 e 40 e Adélio Lima aos 70 anos. Alison Santos é convincente como Gonzaguinha garoto, assim como Giancarlo Di Tommaso que o interpreta entre os 17 e 22 anos. Mas quem mais impressiona é Júlio Andrade, que Breno Silveira classificou como “reencarnação” de Gonzaguinha.

E mais; Nanda Costa, Silvia Buarque, Claudio Jaborandy, Zezé Mota, enfim, um show.
“Gonzaga – de Pai pra Filho” é para ser visto de olhos, ouvidos e corações bem abertos. Com direito a bater palmas e pés ao ritmo do baião.