GRAMADO 2011 – MEXICANO “A TIRO DE PIEDRA” RETRATA A OBSTINAÇÃO E O INCONFORMISMO.

Entediado até a medula, Jacinto (Gabino Rodriguez, muito bom) não suporta mais ser pastor de cabras num fim de mundo qualquer no empoeirado interior do México. Cansado de tanta aridez, tanta poeira e tantos balidos, o rapaz decide ir atrás de seu sonho: cruzar a fronteira rumo à tão propalada “terra prometida” dos Estados Unidos.
Pelo caminho, como sempre acontece neste tipo de road movie, muitas novidades podem surgir.

Assim é “A Tiro de Piedra”, segundo longa estrangeiro exibido (ou mais ou menos exibido) na Mostra Competitiva do 39º Festival de Cinema de Gramado. Digo “mais ou menos exibido” porque a projeção na noite de ontem (07/08) foi feita através de um DVD. E não um DVD qualquer, mas um daqueles que chamamos “de serviço”, com direito a marca d´água para evitar pirataria. A organização do Festival informou que o distribuidor mexicano do filme não entregou a cópia a tempo e que ela será exibida como se deve em data a ser marcada.

Mesmo assim, foi possível perceber que se trata de um filme dos mais competentes. Estreando no longa, o diretor Sebastian Hiriat conseguiu passar para a tela todo o inconformismo e a obstinação cega que movem seu protagonista. Trabalhando num ritmo muito próprio, coerente com o silêncio e a aridez do deserto, “A Tiro de Piedra” ainda brinda o espectador com uma bela fotografia (mesmo com a exibição prejudicada), assinada também por Hiriat. Ele ainda acumula as funções de corroteirista (que divide com o próprio Gabino Rodriguez) e produtor.

Se fosse necessário escolher uma única cena que definisse o filme, há um momento em especial que chama a atenção: o protagonista caminhando a passos decididos, porém sem pressa, paralelamente à gigantesca e quase inacabável cerca que divide a fronteira entre EUA e México, na esperança silenciosa que ela um dia termine. Um primor.

É digna de nota também a maneira pela qual Hiriat não cai na fácil tentação de demonizar os norte-americanos e santificar seus conterrâneos mexicanos. No filme, tanto uns quanto outros são “apenas” pessoas. As maldades e os socorros podem vir – como virão – de ambas as partes. Sem fronteiras que definam qualquer tipo de moralidade.

“A Tiro de Piedra” até o momento não tem distribuidora no Brasil. Fica a dica.

Celso Sabadin viajou a Gramado a convite da organização do Festival.