GRAMADO 2011 – PERUANO “LAS MALAS INTENCIONES” REGISTRA – FORA DE FOCO – A BAIXA ESTIMA DE UMA NAÇÃO.

Criança, instabilidade política e América Latina formam um tripé que costuma dar bons resultados para o cinema sul-americano. A roteirista e diretora estreante Rosário Garcia-Montero bebe nesta fórmula e acerta a mão no longa peruano “Las Malas Intenciones”, (mal) exibido na noite de ontem (08) no 39º Festival de Cinema de Gramado, dentro da Mostra Competitiva de Filmes Estrangeiros.
A exemplo do que já havia ocorrido na noite anterior no mexicano “A Tiro de Piedra”, o representante do Peru também foi prejudicado por uma projeção de péssima qualidade, sem foco. Sem dúvida devem existir motivos para isso (anteontem, por exemplo, foi alegado atraso na entrega da cópia por parte do distribuidor), mas o fato é que um Festival deste porte, prestes a completar 40 anos, não tem o direito de desrespeitar desta forma as pessoas que se dispõem a ver uma obra cinematografia numa tela de um cinema chamado, sem nenhum merecimento, de “Palácio” do Festival. Seja qual for o motivo alegado.

Sobre o filme propriamente dito, tudo se ambienta no Peru de 1982. Cayetana é uma garota de 8 anos que vê a vida através de uma óptica muito particular. Solitária, muito rica e isolada, ela tem uma espécie de fetiche pela morte, uma crueldade latente que usa como escudo contra a quase indiferença de sua mãe, seu pai, e seu padrasto. Tudo piora na vida da menina quando ela recebe a notícia que ganhará um irmãozinho.

“Las Malas Intenciones” traça um painel sarcástico do Peru da época. Fala-se de terroristas que provocam apagões e destroçam vidraças… o que causa a riqueza do fabricantes de velas e de vidros. Fala-se de estátuas de heróis mortos que jamais ganharam uma batalha, de um país eternamente perdedor. E quando o rádio anuncia que o Peru goleou o Brasil num jogo de futebol, alguém comenta: “deve ser mentira”.

Tudo sob o olhar desta garotinha que provoca ternura e medo ao mesmo tempo, que transita entre um país de baixo estima e uma família desagregada. Um filme que merecia uma projeção, no mínimo, com foco.