GRAMADO 2016: “ESPEJUELOS OSCUROS” REVISITA SHERAZADE COM SABOR POLÍTICO.

Por Celso Sabadin, de Gramado.

Representando Cuba, “Espejuelos Oscuros” (óculos escuros) abriu na noite desta terça-feira (29) a Mostra Competitiva dos filmes latinos, dentro do 44º Festival de Cinema de Gramado.

O filme marca a estreia no roteiro e na direção de longas da cineasta Jessica Rodriguez, que aqui em Gramado falou sobre as dificuldades de uma mulher cubana realizar filmes em seu próprio país. Segundo a diretora, “Espejuelos Oscuros” é apenas o quarto longa cubano dirigido por uma mulher, isso num país que tem uma produção cinematográfica bastante significativa. Talvez uma pesquisa mais apurada conteste este número, mas independente do rigor numérico, é fato que o cinema cubano é primordialmente dirigido por homens.

E o filme tem, de fato, uma pegada feminina. A protagonista é Esperanza (Laura de la Uz, cujo primeiro filme, “Hello Hemingway”, também foi exibido em Gramado), uma mulher solitária que vive isolada num casarão no interior. Sua tranquilidade é quebrada pela presença violenta de Mário (Luís Alberto Garcia), um assaltante que vê no isolamento do casarão de Esperanza um bom esconderijo para fugir da polícia.

Para tentar escapar das investidas de Mário, Esperanza começa a lhe contar histórias, e como uma Sherazade contemporânea ela vai encantando o seu suposto feitor com suas intrigantes narrativas. É a luta da perspicácia contra a brutalidade.

“Espejuelos Oscursos” traz uma premissa interessante, mas derrapa no ritmo, fazendo com que pareça mais longo que seus 90 minutos. Como não poderia deixar de ser numa produção cubana, seu subtexto é formado por várias referências políticas, o que dá mais sabor à trama.

Até o momento, o filme não tem distribuição prevista para o mercado brasileiro.

Celso Sabadin viajou a Gramado a convite da organização do evento.