“GUERRA CIVIL”: COMO É BOM VER OS EUA DESTRUÍDOS!

Por Celso Sabadin.

Indo contra os meus próprios princípios, assisti ao trailer de “Guerra Civil” antes de ver o filme. Desde que os trailers passaram a ser um resumão dos filmes – com direito a vários spoilers – eu faço o possível para não vê-los, jamais. Contudo, acabei vendo o de “Guerra Civil”, e fui positivamente surpreendido.

Isto porque o trailer vende a ideia do filme ser um blockbuster de ação. O que, na verdade, não é. “Guerra Civil” é um road movie que reúne quatro personagens – todos eles, digamos, “principais” –  cada qual com suas próprias questões íntimas a resolver, que empreendem uma tensa viagem através de uma situação exasperadora. Que, no caso, é uma guerra que divide os Estados Unidos. Tal conflito é quase aquilo que Hitchcock chamava de “McGuffin”, ou seja, um pretexto adjacente para a trama principal, que não importa muito de onde veio, nem para onde vai.

Joel (Wagner Moura), Lee (Kirsten Dunst), Jessie (Cailee Spaeny) e Sammy (Stephen McKinley Henderson) são jornalistas que dividem o mesmo jipe na tentativa de cruzar a zona de guerra e entrevistar o presidente dos Estados Unidos em frangalhos.

Configura-se nesta empreitada um tenso microcosmo de inter-relacionamentos pessoais, envolvendo questões como inseguranças, medos, sonhos, coleguismo, profissionalismo e assim por diante. Do lado de fora do jipe, emergem e explodem intransigências e ódios incorporados nos arquétipos que atualmente conhecemos bem sob a alcunha de “patriotas”.

Tudo é costurado com habilidade pelo roteirista e diretor Alex Garland, o mesmo de “Aniquilação” e “Men: Faces do Medo”.

O fato de eu ter ido à sessão esperando apenas mais um exemplo de tiro-porrada-e-bomba, mas ter encontrado uma obra bem melhor elaborada do que eu esperava, certamente contribuiu para uma avaliação positiva de “Guerra Civil”. Mesmo porque faz muito bem à alma ver colapsando este nocivo império do mal chamado EUA. Ainda que seja de mentirinha, porque um dia a casa cai.

Sem dar spoiler, no final finalmente se compreende porque contratar um ator “estrangeiro” para o papel de Joel: não saberia dizer quais atores norte-americanos aceitariam incorporar a autocrítica que a cena constrói.