“HABEMUS PAPAM” É DIVERTIDO, INTELIGENTE E CÁUSTICO.

Algumas vezes já disse e escrevi, em tom de brincadeira, que não existe filme italiano sem padre. A figura do padre católico é fortíssima na cultura italiana e, consequentemente, bastante presente em sua cinematografia. Nada mais pertinente, portanto, que um filme italiano com diversos padres, freiras, quase 200 cardeais e, capitaneando todos eles, um Papa. Ou melhor, uma quase Papa.

Assim é “Habemus Papam”, sátira político-religiosa-filosófica escrita e dirigida pelo ótimo Nanni Moretti, o mesmo de “O Quarto do Filho”. O ponto de partida da trama é a crise de pânico sofrida pelo Cardeal Melville (Michel Piccoli), que acaba de ser eleito Papa, segundos antes do tradicional discurso que os papas geralmente fazem naquela sacada bonita que tem lá no Vaticano. Crise total no mundo católico! Para tentar resolver ou pelo menos contornar a situação, é chamado um psiquiatra (vivido pelo próprio Moretti) que, diga-se de passagem, é ateu. Tem início então uma série de situações que questionam dogmas intocáveis com a mais corrosiva das armas letais: o bom humor.

Deliciosamente irônico, jamais ofensivo, e sempre inteligente, “Habemus Papam” fala de medos, responsabilidades, fé, e do imenso abismo que separa as crenças milenares da realidade do mundo moderno.