“HAPPY HOUR” PATINA ENTRE INCONSISTÊNCIAS.

 Por Celso Sabadin.

Assisti a “Happy Hour – Verdades e Consequências” duas vezes. Na primeira, normal, para tomar contato com a obra, me senti bastante incomodado pelo excesso de texto em off que fica explicando ao público tudo o que o protagonista está pensando. A cada intervenção do personagem, eu era arrancado do clima do filme. A ferramenta da narração em off redundante – como já defendi várias vezes – é uma muleta que tem sido muito usada no cinema brasileiro (aqui no caso, Brasil/Argentina) que tem enfraquecido visivelmente (aqui no caso, audivelmente) a dramaturgia cinematográfica na medida em que se aproxima da pobreza congênita da narrativa telenovelesca.

Na segunda vez que vi o filme, fiz o exercício mental de imaginar como ele ficaria se a tal narração em off não existisse. E o longa melhorou muito! Tornou-se mais cinema e menos novela, mais emoção e menos blá-blá-blá.

Porém, como cabe ao crítico examinar a obra que foi feita, e não a que ele gostaria que tivesse sido feita, vamos ao texto. Em “Happy Hour”, Horácio (Pablo Echarri) é um professor argentino que mora no Rio de Janeiro e passa por uma crise de meia idade: ele se sente atraído por uma aluna Clara (Aline Jones), quer transar com ela, mas antes de fazê-lo decide abrir o jogo com a esposa Vera (Letícia Sabatella), contando suas intenções. Obviamente Vera repudia a ideia, o que abre uma crise profunda no casal.

Paralelamente, Horácio vive um momento de inesperada fama repentina, já que ele acidentalmente ajudou a prender um certo ladrão Aranha (Pablo Morais), que agia nos mesmos moldes do Homem Aranha, enquanto Vera se candidata, sem muita convicção, ao cargo de prefeita da cidade do Rio de Janeiro.

Parece confuso? E é mesmo. “Happy Hour” abre várias linhas narrativas – algumas delas com uma clara intenção irônica, o que poderia ser bem interessante – mas no decorrer da trama parece perder-se em meio a elas, derrapando na construção dos personagens, falhando na empatia dos protagonistas, e tentando desenvolver, sem muito sucesso, um roteiro que acaba se revelando inconsistente.

“Happy Hour” é o primeiro longa dirigido por Eduardo Albergaria, mais conhecido como produtor de TV, com mais de 300 episódios de séries para em seu currículo.

No elenco estão também Chico Diaz, Rocco Pitanga, e Luciano Cáceres, entre outros.