“HÍBRIDOS” DOCUMENTA A FORÇA DA RELIGIOSIDADE BRASILEIRA.

Por Celso Sabadin.

Poucas coisas definem tão profundamente o Brasil como a sua diversidade religiosa. Manifestações de fé que se misturam – ou não – em rituais quase sempre pontuados pelo sincretismo que há séculos caracteriza nossa cultura são objetos dos mais variados estudos, nas mais variadas áreas do conhecimento. Incluindo, sem dúvida, o audiovisual.

Em 2000, o cineasta Ricardo Dias já havia se debruçado sobre o tema com seu belíssimo documentário “Fé”, e agora, passadas quase duas décadas, o assunto volta à pauta no não menos belo “Híbridos, os Espíritos do Brasil”, dos realizadores franceses Priscilla Telmon e Vincent Moon. Muita coisa pode ter mudado no país neste tempo. Mas não (pelo menos ainda) as nossas manifestações de religiosidade. As verdadeiras, claro, não as manipuladas politicamente como trampolim para o poder.

Coproduzido por França e Brasil, “Híbridos” segue a mesma linha de “Fé”. Ou seja, faz a feliz opção de deixar que as imagens falem por si, sem narrações, nem depoimentos. Democrático, o filme aborda de Iemanjá ao Círio de Nazaré, de indígenas a urbanos, de passes espíritas ao Santo Daime, sem prejulgamentos nem doutrinações. Apenas mostra. E como mostra: grande parte de sua força está nas belíssimas imagens, nas formas, cores e texturas que ajudam a revelar não apenas a dramaticidade de toda esta religiosidade, como também a riqueza da nossa cultura que, apesar de tudo, resiste. Não se sabe por quanto tempo, mas resiste.

“Híbridos, os Espíritos do Brasil” estreia em 15 de março.