HISPANO-BRASILEIRA, “LOPE” É SUPERPRODUÇÃO DE ENCHER OS OLHOS.

Tem estilo e jeitão de superprodução americana. Grandiloquente, pomposa, tecnicamente caprichídassima. Porém, surpresa: trata-se de uma coprodução hispano-brasileira, com direção de Andrucha Waddington, o mesmo de “Eu, Tu, Eles”.
O roteiro dos espanhois Jordi Gasull e Ignacio del Moral (roteirista também do ótimo “Segunda Feira ao Sol”) romantiza parte da vida do dramaturgo e poeta espanhol Félix Lope de Vega (vivido pelo argentino Alberto Ammann). Considerado o fundador da comédia espanhola, Lope de Vega é reconhecidamente um dos mais prolíficos autores da literatura mundial: sua obra acumula mais de 400 comédias, 42 autos, e incontáveis poemas, romances e livros. Nascido em 1562 e morto em 1635, foi contemporâneo (e, dizem, desafeto) de Miguel de Cervantes (1547-1616), o famoso autor de “Don Quixote”.
O filme de Andrucha não se propõe a ser uma cinebiografia completa do personagem, o que certamente nem caberia num único longa, e prefere se centrar num Lope jovem, irascível, explosivo e apaixonado. Por mulheres e pelo teatro. Mesmo porque nada melhor que uma boa carga de juventude e rebeldia para fazer explodir nas telas uma trama repleta de paixão e regada com os mais típicos rompantes passionais latinos. Ao retratar um protagonista impulsivo e arrebatador, o filme coerentemente se apoia numa estética igualmente impulsiva e arrebatadora. Da vibrante trilha sonora de Fernando Velázquez (de “O Orfanato) à fotografia esmerada de Fernando Della Rosa (de ”Casa de Areia” e ”Olga”), passando por algumas das mais fotogênicas locações da Espanha.
Tudo é feito para encher os olhos e os ouvidos por meio de um personagem libertário desafiador das convenções sociais e religiosas de seu tempo.

Folhetinesco? Talvez. Mas emocionante e delicioso de ser visto.

Lope foi indicado a 7 Goya, a mais importante premiação cinematográfica da Espanha, e levou dois: melhor canção original (“Que el Soneto Nos Tome por Sorpresa” do uruguaio Jorge Drexler) e melhor figurino.