HISTÓRIA DE NAPOLEÃO PARA QUEM TEM PRESSA

Por Celso Sabadin.

Napoleão é um projeto pensado para ser exibido em uma versão de quatro horas de duração (para a Apple TV), e outra de pouco mais de 2h30, para os cinemas. A imprensa foi convidada para ver a versão da tela grande, que estreia nesta quinta-feira, 23/11. Foi a que eu vi.

Saí do cinema com a sensação de ter visto, digamos, um resumão da obra. Uma espécie de “História de Napoleão para Quem Tem Pressa”, parafraseando o nome da coleção de livros da Editora Valentina, que se utiliza deste mote.

O filme esbanja uma produção das mais caprichadas e elaboradas (mesmo com um cenário ou outro deixando transparecer uma excessiva virtualidade), traz um elenco de primeiríssima qualidade, e sabe manter o interesse do espectador pela fantástica trajetória do seu biografado. Mas é inegável a sensação de pressa para contar a história.

O roteiro de David Scarpa (em seu primeiro trabalho solo) tem início na Revolução Francesa, momento em que Napoleão, já oficial do exército, inicia sua heroica escalada militar. Prossegue cronologicamente fundamentado nas árduas batalhas – campais e pessoais – do protagonista, e finaliza com o exílio. Desenha um Napoleão estrategicamente genial e socialmente desajustado, rude, eventualmente inseguro e invariavelmente prepotente.

O papel cai bem para o sempre ótimo Joaquin Phoenix, embora seja preciso reconhecer que Vanessa Kirby, interpretando Josefina, rouba todas as cenas em que aparece.

A direção – digamos, correta – nos mostra um Ridley Scott mais para Perdido em Marte que para Blade Runner. Mais para Prometheus que para Alien.

O resultado é um filme – digamos, novamente, correto – que se acompanha com interesse, mas com pouca paixão. Um projeto que, pelo menos nesta versão, parece ficar bastante aquém das possibilidades que um protagonista historicamente tão rico e tão controverso poderia proporcionar. Um personagem que até Chaplin já desejou protagonizar, e que Abel Gance transformou em épico ainda na era do cinema silencioso. E que agora ficou devendo, apesar de toda a exuberância das novas tecnologias.

Da minha parte, fiquei curioso para conferir se a versão de 4 horas oferece uma dramaturgia mais intensa. Pena que eu não assine a Apple TV.