Hora de Voltar

Há filmes que conquistam pela simplicidade. É o caso deste instigante Hora de Voltar, escrito, dirigido e interpretado pelo jovem (29 anos) Zach Braff, mais conhecido como o enfermeiro no seriado Scrubs. Zach mostra talento ao contar a história de Andrew (interpretado por ele mesmo), garçom de um restaurante vietnamita em Los Angeles que sonha em seguir a carreira de ator. Como milhares de outros garçons/atores da cidade. Vivendo em estado letárgico, conseqüência da bateria de remédios que toma diariamente, Andrew recebe – com igual letargia – a notícia da morte de sua mãe. Regressa então para sua cidade natal, onde não ia há nove anos, e lá acaba retomando o contato com seus colegas de infância e adolescência. Não somente é hora de voltar, como também de resolver algumas antigas pendências familiares.
A direção sóbria, cadenciada e – por que não – letárgica do filme é perfeitamente coerente com o personagem principal. Andrew vê o mundo com total indiferença, quase como um morto-vivo caminhando sem pressa por destinos que ele não escolheu. Parece que não pensa. E, se pensa, não age. Tem-se a impressão que seus olhos se movimentam com velocidade muito maior que seu cérebro. Talvez seja uma crítica à sua própria geração ou sociedade, que também parece não pensar. Muito menos agir. As atitudes passivas e robóticas de Andrew criam um filme agridoce, onde é possível rir e derramar uma ou outra lágrima numa mesma cena. Não é totalmente um drama, nem totalmente uma comédia, embora alterne momentos bastante tristes e densos com situações extremamente cômicas. Como a própria vida, aliás.
Evitando as fórmulas fáceis do cinemão puramente comercial, Hora de Voltar recebeu vários prêmios e indicações em eventos do cinema independente (Spirit Awards, Satélite de Ouro, Sundance, etc.), e além de revelar o talento de um novo diretor estreante no longa-metragem, confirma novamente a ascenção da carreira de Natalie Portman, a mesma de Closer – Perto Demais.
E como se tudo isso não bastasse, a trilha sonora é uma delícia!