“HORÁCIO”, COM A CARA DO BRASIL.

Por Celso Sabadin.

“Horácio” é um filme com a cara do Brasil: gaiato, não se leva a sério, escrachado, meio calhorda, e repleto de heróis sem caráter, como Macunaíma. O personagem título – vivido pelo famoso dramaturgo José Celso Martinez Correia – é um contrabandista procurado pela polícia que vive entocado numa luxuosa cobertura no fotogênico bairro paulistano do Bexiga. Ao lado do seu fiel escudeiro Nelson (Marcelo Drummond), ele arquiteta um plano para fugir do país e aproveitar sua fortuna no exterior, ao mesmo tempo em que mantém algemada e presa em seu quarto sua filha Petula (Maria Luísa Mendonça), a quem Horácio atribui a causa de todos os seus problemas. Petula, por sua vez, quer fugir da gaiola dourada que a oprime, e para isso procura apoio no namorado Faraó (Ricardo Bittencourt), que por sua vez… bem… quem conhece o Brasil sabe que o país não nos cansa de surpreender em seu infinito moto contínuo de sacanagens. Assim como o filme.

“Horácio” flerta abertamente ora com o cinema marginal, ora com as antigas chanchadas, ora com as pornochanchadas, e acerta ao reciclar tais linguagens conhecidas do nosso cinema  para mostrar uma trama igualmente conhecida da nossa sociedade, repleta dos nossos tão conhecidos valores sem valores. Enquanto transita livremente entre a comédia, a farsa, o escracho e a crítica social.

Um trabalho bastante promissor do roteirista, diretor, editor e produtor estreante Mathias Mangin, que logo neste seu primeiro longa parece que captou o espírito da coisa: fé em Deus e pé na tábua, senão o filme não sai.

Destaque para a ótima trilha sonora, praticamente 100% original,

que explora com talento e bom humor o tom brega que permeia os personagens, ao mesmo tempo em que embala com bom ritmo a agilidade necessária à trama.