HUMOR, POLÍTICA E MISTÉRIO DÃO O TOM DE “CASAMENTO SILENCIOSO”.

Um programa de TV especializado em registrar fenômenos paranormais vai até um povoado perdido no interior da Romênia. “Um vilarejo que os comunistas destruíram para construir uma fábrica, e que depois os capitalistas destruíram para construir um vilarejo”, diz um dos personagens.

Lá chegando, o clima é de total estranheza. E um dos antigos moradores começa a narrar os terríveis fatos que marcaram o local. A ação se desloca então para os anos 50, onde os apaixonados Ana e Iancu iniciam os preparativos para seu casamento. Tudo está previsto para ser uma grande festa, até que dois fatores – um político e outro transcendental – conspiram para um final inusitado.

“Casamento Silencioso” é uma intrigante mistura de mistério e política (mais política que mistério), temperada com boas doses de humor, irreverência e fantasia. Ao enfocar o cotidiano de uma pequena vila, chega a lembrar “Amarcord” de Fellini (guardadas as devidas proporções, é claro), e ao colocar a narrativa sob o ponto de vista de uma criança, abandona deliberadamente o registro do realismo, preferindo viajar no sonho e nas estilizações. Tudo com muito equilíbrio.

De origens e culturas cigana e latina, os habitantes da vila são o próprio símbolo da alegria de viver. Expansivos, irreverentes e barulhentos (os orgasmos de Ana que o digam), eles celebram a existência com a simplicidade e o vigor de uma boa bebedeira. Como contraponto, a sisudez e o rigor da Romênia da era Stalinista lembra a todos como os governantes são sempre capazes de estragar o melhor da vida. Entre os dois pólos, a figura sempre patética do líder colaboracionista, estandarte do puxasaquismo e do flerte com o poder. Está criado o microcosmo político-social que cabe tanto num vilarejo perdido como numa grande potência. Mundial.

Co-produzido por Romênia, Luxemburgo e França, “Casamento Silencioso” marca a estréia na direção cinematográfica de Horatiu Malaele, conhecido ator e diretor teatral na Romênia.