“ILUSÕES PERDIDAS”: O SÉCULO 19 É HOJE.

Por Celso Sabadin.

Jornalistas e influenciadores facilmente corruptíveis inventando “notícias” apenas para satisfazer suas vaidades pessoais e seus interesses políticos. Arrivistas sociais dispostos a tudo para conseguir um lugar na elite. “Produtores” de sucessos ou fracassos artísticos vendendo-se a quem se dispuser a pagar mais, independentemente de qualquer outro valor. Endinheirados conduzindo os rumos da sociedade, sem o menor pudor moral.

Devia ser difícil viver na Paris do início do século 19, local e tempo em que acontece “Ilusões Perdidas”, de Honoré de Balzac, novamente adaptado para o cinema. Dirigido por Xavier Giannoli, o mesmo do premiado “Marguerite”, esta versão 2021 de “Ilusões Perdidas” entrou em cartaz nos cinemas brasileiros no último dia 9 de junho, e como não poderia deixar de ser, está chamando a atenção pela atualidade de seu texto. Texto, aliás, que não deve ter sido nada fácil de ser adaptado, tarefa árdua – e muito bem realizada – pelos roteiristas Jacques Fieschi e Yves Stavrides, em conjunto com o próprio diretor.

O ponto de partida é o amor proibido entre o jovem aspirante a poeta Lucien (Benjamin Voisin, de “Verão de 85”) e a aristocrata casada Louise (Cécile de France), que provoca um pequeno escândalo na provinciana região do interior francês, onde ambos moram. Para abafar o caso, Lucien e Louise se mudam para Paris… onde perceberão que escândalo pequeno é bobagem.

Coproduzido por Bélgica e França, o longa tem como seu maior mérito sintetizar o extenso texto de Balzac sem cair na armadilha cinematográfica do reducionismo. É evidente que – como sempre – o filme é um resumo do texto original (nem poderia ser diferente), mas a sólida interação entre roteiro e direção consegue aqui manter acesa a chama do ferino sarcasmo balzaquiano, ao mesmo tempo em que constrói seus personagens (que não são poucos) com ótimo ritmo e muita empatia com o público. Direção de arte, reconstituição de época e fotografia da mais alta qualidade ajudam a emoldurar as sempre empolgantes trajetórias dos protagonistas e coadjuvantes.

Não por acaso, “Ilusões Perdidas” foi o grande vencedor do prêmio César deste ano, conquistando seis troféus, entre eles, o de melhor filme, ator-revelação (para Benjamin Voisin), coadjuvante (Vincent Lacoste, no papel de Etienne Lousteau) e roteiro adaptado, além de concorrer em outras oito categorias.

E ainda há espaço para uma pequena, mas marcante participação do sempre bem-vindo Gérard Depardieu.