IMAGENS RARAS FASCINAM EM “EU SOU INGRID BERGMAN”.

Por Celso Sabadin.

Costumo dizer, brincando (mas nem tanto), que curto “documentários que documentam”. Admiro também aquele tipo de documentário às vezes mais poético, às vezes mais sensorial, que joga suas lentes sobre o objeto a ser documentado, mas com uma preocupação mais formal e artística que propriamente documental. Mas prefiro os que fazem do filme um documento.

Tudo isso para dizer que foi uma belíssima surpresa assistir a “Eu Sou Ingrid Bergman”, sobre a vida e a carreira da famosa atriz sueca. Trata-se de fato do tal “documentário que documenta”. Isso porque o diretor Stig Bjorkman teve acesso a um vastíssimo e riquíssimo material de arquivo, composto por nada menos que os próprios diários pessoais de Ingrid, e das filmagens amadoras que a atriz tinha verdadeira paixão em realizar. Através de seus diários, somos brindados com os pensamentos e sentimentos de Ingrid Bergman escritos no calor do momento e da época em que eles se desenrolavam . Não é um livro de memórias escrito a posteriori, revisado e repensado, mas sim o documento em tempo real de toda uma forma de viver, o que faz toda a diferença. E através de suas filmagens amadoras – hobby adquirido do pai – mergulhamos na autenticidade das imagens realizadas sem maquiagens, com direito a preciosos e raríssimos minutos de bastidores de grandes clássicos protagonizados por Ingrid.

Claro, há também as tradicionais entrevistas com personalidades que não podiam faltar, como Isabella Rossellini, Ingrid Rossellini, Roberto Rossellini, Liv Ullmann, Sigourney Weaver, muito material de arquivo da própria biografada, etc., mas nada que supere a rara autenticidade arqueológica dos diários e das imagens amadoras.

Sincero, e sem procurar endeusar o objeto de seu documento, “Eu Sou Ingrid Bergman” recebeu a menção honrosa L’Oeil d’Or no Festival de Cannes, e também foi eleito o documentário internacional mais popular no Festival de Vancouver.