“INEZITA”: GARRA E AUTENTICIDADE DE UMA CULTURA ESQUECIDA.

Por Celso Sabadin.

Quem conhece Inezita Barroso “apenas” como a apresentadora do programa “Viola Minha Viola”, veiculado durante mais de 30 anos na TV Cultura, vai se surpreender com o (ótimo) documentário “Inezita”. Ágil, envolvente, emocionante, e elucidativo, o filme narra com solidez a trajetória da sua personagem-título, guerreira que desafiou o extremo conservadorismo de toda uma época ao tornar-se a primeira mulher brasileira a combater preconceitos empunhando um violão como arma, e fazendo de sua potente voz um verdadeiro hino de liberdade.

E não apenas isso: a bordo de um jipe, Inezita seguiu os caminhos de Mário de Andrade, e perscrutou quase 7 mil quilômetros de território brasileiro à cata das mais autênticas manifestações folclórico-musicais do nosso povo, reunindo um vastíssimo e inédito acervo… que as emissoras de rádio e TV da época não se interessaram em divulgar. Além de cantora, pesquisadora, folclorista, professora universitária e exímia violonista, ela também foi atriz premiada do cinema brasileiro, atuando em sete longas.

Nada mal para aquela “senhorinha” que encantava as manhãs televisivas abrindo espaço em seu programa para a verdadeira música brasileira de raiz. E que brigava com qualquer um que ousasse tentar acrescentar instrumentos eletrônicos no seu quintal caipira.

Tudo isso – e mais – está no filme, um trabalho que além de documentar uma personalidade obrigatória da cultura brasileira, tem o grande mérito de desenvolver uma narrativa e uma estética sem invencionices, sem maneirismos que poderiam interferir na autenticidade do que tão brilhantemente retrata.

Com depoimentos de Ruth de Souza, Mary e Marilene Galvão, Renato Teixeira,  Ary Toledo, Zuza Homem de Mello, e muitos outros “Inezita” tem a direção segura de Helio Goldsztejn, com roteiro de Fabio Brandi Torres.

Um filme direto, forte e importante. Como sua protagonista.