“INFÂNCIA CLANDESTINA”: ESTES ARGENTINOS ESTÃO QUERENDO ME DESIDRATAR.

Covardia: filme com criança sofrendo perdas irreparáveis durante a ditadura militar. O que estes argentinos estão querendo fazer com este pobre crítico de cinema, pai da família? Me matar por desidratação, de tanto chorar? E o “pior” é que “Infância Clandestina” é extremamente bem roteirizado, dirigido e interpretado! Ou seja, a gente entra de cabeça na história e sofre muito mais. Se ainda ele fosse meio tosco, se os atores fossem medianos, se a direção fosse insegura… vá lá… Mas não! Tudo é de ótima qualidade no filme de Benjamin Ávila, o que obviamente o torna mais sensível.

Não que o binômio ditadura/criança seja uma novidade nas nossas Américas, longe disse. “Kamtchaka”, “Machuca” e “O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias”, só para citar os três primeiros exemplos que me vêm à cabeça, já trataram deste tema igualmente com muita qualidade. O que não tira de forma alguma os méritos de “Infância Clandestina”.

O roteiro – desenvolvido a quatro mãos pelo próprio diretor e pelo brasileiro Marcelo Muller – se centraliza em Juan, garoto de 12 anos que é obrigado a assumir uma nova identidade, pois seus pais são guerrilheiros montoneros que militam secretamente contra a ditadura argentina. A questão é: como um pré-adolescente, com toda a sua vida em transformação e hormônios à flor da pele, vai conseguir arranjar maturidade suficiente para administrar uma situação tão complexa? Como exigir isso de um menino?

Indicado pela Argentina para a vaga para o Oscar de filme estrangeiro 2013, “Infância Clandestina” já ganhou vários prêmios, entre eles, melhor atriz (Natalia Oreiro) no Festival Fine Arts de Porto Rico, melhor filme no Festival Internacional de Cinema de União das Nações Sul-Americanas, Prêmio Casa da América no Festival de San Sebastian e melhor roteiro em La Habana.

Se ele ganhar o Oscar (batendo o imbatível francês “Intocáveis”), a gente pode também soltar um rojãozinho: “Infância Clandestina” foi coproduzido com o Brasil…