INQUIETANTE, “À PROCURA” MERGULHA NO CRUEL SUBMUNDO DO VOYEURISMO VIRTUAL.

por Celso Sabadin.

Nascido no Egito, de pais norte-americanos, e criado no Canadá, o roteirista e cineasta Atom Egoyan vem construindo sua obra através de filmes de direção elegante e segura, onde não faltam elementos de suspense e mistério. Suas histórias são contadas sem pressa e quase sempre com forte carga dramática. Seus filmes, como os pratos mais finos, são feitos para serem saboreados, e não simplesmente consumidos. “O Doce Amanhã”, “Verdade Nua”, “Sem Evidências” e “Ararat” são alguns dos exemplos da sólida filmografia do cineasta.

“À Procura” não foge à regra.  A partir de seu próprio argumento original, Egoyan desenvolve a história de um casal que se vê diante do terrível pesadelo do desaparecimento de uma filha. A menina Cassandra, de 9 anos, some das vistas do pai, Matthew (Ryan Reynolds) apenas por alguns minutos, tempo suficiente para que a vida de todos os envolvidos se transforme num martírio. A situação piora quando a polícia passa a considerar o próprio pai da garota como suspeito. O casamento desaba, os pais entram em profundas crises, e a única luz no fim do túnel pode estar nas mãos de Nicole (Rosario Dawson), uma investigadora especializada em casos de abuso infantil via internet.

A sinopse acima pode sugerir que “À Procura” seja apenas mais um filme de investigação policial, como tantos outros. Não é. Atom Egoyan não faria apenas mais um filme. O roteiro vai além, explorando e denunciando o que as mais recentes formas de voyeurismo virtual, conjugadas com as mais nocivas fórmulas de reality shows podem catalisar da crueldade e da bizarrice dentro dos piores recônditos da alma humana. Junte-se a isso o atraente estilo de direção sempre enigmático do cineasta, jogando pistas, alternando tempos, brincando com meias verdades, utilizando a imensidão do gelo e da neve como metáfora dos sentimentos inóspitos e desolados de uma parcela psicótica da sociedade. Parcela esta que pode estar muito mais presente no nosso cotidiano que possamos imaginar.

Concorrente à Palma de Ouro em Cannes, “Á Procura” é um raro exemplar de cinema adulto de qualidade chegando ao nosso circuito. Veja rápido, porque dificilmente este tipo de produção permanece muito tempo em cartaz.