“INSIDE LLEWIN DAVIS” TEM A DOCE INTROSPECÇÃO NOSTÁLGICA DA MÚSICA FOLK.

“Inside Llewin Davis” pode ser sobre um homem comum, como diz o subtítulo brasileiro, mas não se trata de um filme comum. Mesmo porque nada escrito e dirigido pelos sempre criativos e inquietos irmãos Coen pode ser classificado com este adjetivo. “Inside Llewin Davis” é um filme sobre um homem tangente, um talento que não vingou mas passou perto, uma faísca musical que poderia ter se incendiado mas não o fez. É um filme sobre o quase. Se para cada grande sucesso há centenas de quase astros, Llewin Davis é um deles.

Llewin Davis (o guatemalteco Oscar Isaac, ótimo) é um cantor folk que tenta a carreira solo, após o término trágico de uma parceria promissora. A música folk, como o próprio filme brinca, é aquela que parece que você já ouviu antes, mesmo sendo inédita. Porém, as coisas não andam nada fáceis para Davis, naquele início de anos 60. A concorrência no setor é grande e boa, seu relacionamento com a ex-namorada é um verdadeiro inferno, e para conseguir um lugar para dormir, ele é obrigado a recorrer a vários amigos. Sendo que alguns nem são tão amigos assim. Além disso, o protagonista é obrigado a se confrontar com velhos medos do passado.

Os Coen pintam esta pequena tragédia urbano-musical com suas sempre características cores da ironia. Há humor, há muita música (deliciosa, por sinal), e belos momentos de terna introspecção que brindam o público com longos e generosos closes onde o artista e sua arte falam por si. A ambientação romântico-decadente do bairro novaiorquino de
Greenwich Village dos anos 60 é um atrativo nostálgico a parte: de repente, nos vemos hipnotizados pelo filme, e nem sabemos muito bem porquê.

Vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes, o filme não é baseado num caso real, mas em vários quase-Bob Dylans que marcaram a cena musical norte-americana da época.

Doce e melancólico, como o próprio folk.