“INSTINTO MATERNO” É UM SOCO SOCIAL NO ESTÔMAGO.

Sem medo de abordar crua e friamente alguns dos temas mais cruéis da nossa sociedade (aborto, fanatismo religioso, preconceitos sócio-raciais, etc), o cinema romeno novamente se entrega a um assunto espinhoso. E de forma espinhosa: o instinto materno. Talvez o único amor realmente incondicional que possa existir, o instinto materno ultrapassa qualquer limite do bom senso, da realidade ou da justiça. Ele é simplesmente o que se propõe a ser: instinto. Quase animal.

Esta proposta é defendida no filme batizado simples e secamente como “Instinto Materno”. A trama fala do desespero de uma mãe de classe alta que fica sabendo que seu filho provocou a morte de um menino de classe baixa. Um desespero advindo não da tristeza da família que perdeu um filho, não, mas sim do sofrimento que seu próprio filho possa estar passando em função deste trauma.

A total cegueira desta mãe para assuntos que não sejam relacionados com o próprio filho é de causar desconforto até ao mais insensível dos espectadores. Sublinhando a crueldade da situação, o diretor Calin Peter Netzer trata do tema com total aridez, de maneira não apenas a potencializar a aspereza do relacionamento entre os personagens, como também a posicionar entre mundos diametralmente opostos as realidades das famílias envolvidas na tragédia.

Mesmo demorando um pouco a engrenar, “Instinto Materno” foi muito bem recebido no mais recente Festival de Berlim, onde
ganhou o Urso de Ouro e o Prêmio da Crítica Internacional.