“INTOLERÂNCIA.DOC”, INFELIZMENTE, UM FILME QUE PRECISA SER VISTO.

 

Por Celso Sabadin.

A boa notícia é que São Paulo tem uma delegacia específica para combater crimes contra a intolerância. E a péssima notícia é que São Paulo tem uma delegacia específica para combater crimes contra a intolerância. Claro! Se existe a necessidade de uma delegacia com este viés, é sinal que os truculentos e intolerantes conseguiram seus objetivos de tornarem-se gigantescas preocupações sociais.

É este panorama de crescente polarização da violência pela violência que a cineasta Susanna Lira realiza seu longa “Intolerância.doc”, retratando diversas facetas desta nossa barbaridade contemporânea. Competente, o filme não cai no panfletarismo, muito menos na facilidade da exploração gratuita da situação. Aliás, para isso, já temos vários programas de TV que cumprem esta função. “Intolerância.doc” vai mais fundo, e consegue depoimentos de pessoas que já atuaram em movimentos radicais que pregam a violência gratuita, extraindo deles cruéis e verdadeiras revelações. Entre elas, a exposição da agressividade como moeda de troca, como símbolo de status social diante de grupos humanamente esfacelados. Susanna desvenda um meio social no qual quem bate mais consegue mais cervejas e mais mulheres. Ambas gratuitas. E quem vai para a cadeia é tido como herói.

O documentário acompanha a trajetória de cinco vítimas de intolerância: André Lezo, torcedor da Mancha Alvi Verde; e Felipe Dime, torcedor da Gaviões da Fiel, vítimas fatais de espancamento. Johni Raoni, punk morto a facadas por skinheads; Renata Perón, travesti que perdeu um rim ao ser agredida por um grupo de desconhecidos; Edson Neris, espancado por skinheads que o identificaram como gay. A morte de Edson resultou na primeira condenação no Brasil por intolerância sexual e motivou a criação da tal Delegacia de Combate a Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, citada no início deste texto. Susanna Lira dedicou-se à pesquisa do tema durante cinco anos, acompanhando o trabalho principalmente da delegada titular Margarete Barreto, conseguindo, assim, acesso a ambientes pouco conhecidos pelas câmeras. Destaque também para a eficiente utilização de animações como recurso narrativo.

Urgente e necessário, “Intolerância.doc” estreia nesta quinta, 17 de agosto.