INTRINCADO, “GAROTO DOS CÉUS” EXPLORA BASTIDORES DO ISLAMISMO.

Por Celso Sabadin.

Antes de mais nada, um esclarecimento: pessoalmente, senti que me faltou repertório para acompanhar “Garoto dos Céus” em toda a sua profundidade. Como se trata de um filme repleto de densos diálogos relacionados à cultura árabe, eu flutuei um tanto durante a projeção.

A trama se passa nos bastidores da tradicionalíssima Al-Azhar, universidade pública fundada no Cairo no século 10, e tida como a maior referência mundial em aprendizagem islâmica. É ali que o jovem estudante Adam (Tawfeek Barhom), um humilde filho de pescador, vindo de uma pequena vila litorânea, é cooptado para servir de espião num intrincado processo de sucessão do recém-falecido Imã, o líder máximo do poder religioso local.

Assustado e inexperiente, Adam repentinamente se percebe pivô de uma trama política que envolve desde investigações do setor de Segurança Nacional, até denúncias relacionadas às mais altas esferas da religião, onde não faltarão corrupção, chantagens e até mortes.

“Garoto dos Céus” é o sexto longa do roteirista e diretor Tarik Saleh, filho de pai egípcio e mãe sueca. Nascido em Estocolmo, Saleh tem em seu currículo também a direção de episódios de séries, como “Westworld” e “Ray Donovan”. Ele afirma que seu novo longa não é uma crítica ao Islã, não é sobre expor segredos obscuros da religião, “mas é sobre compreender o poder do conhecimento, tanto como uma força libertadora ou aprisionadora. Afirma ainda que teve ideia para o filme ao reler o romance “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco, que se passa num mosteiro medieval. E se perguntou: “E se a história acontecesse no contexto muçulmano? Seria possível?”.

Vencedor do prêmio de roteiro no Festival de Cannes, “Garoto dos Céus” está na pré-lista de indicados ao Oscar de Filme Estrangeiro, representando a Suécia. O longa é uma coprodução entre Suécia, França, Finlândia e Dinamarca.