INUTILMENTE EM 3D, “PLANETA DOS MACACOS” É UM ÓTIMO DRAMA DE GUERRA.

Por Celso Sabadin.

Um drama sobre a estupidez das guerras e a incapacidade humana de se manter em paz. Não, “Planeta dos Macacos – A Guerra” não é um mero blockbuster de entretenimento, e dramaturgicamente coloca o drama humano acima da fantasia aventuresca. O fato dele ser estrelado por personagens envoltos no que há de mais recente em termos de tecnologia digital, no caso, é um mero detalhe. O filme vale mesmo pelo roteiro escrito a quatro mãos por Mark Bomback (que também escreveu “Wolverine: Imortal”) e pelo diretor Matt Reeves, que dirigirá a próxima versão de “Batman”. Lembrando que tudo na verdade começou em 1963 com o livro “Le Planette des Singes”, do francês Pierre Boulle. Adaptado para o cinema em 68, o livro de Boulle foi o pontapé inicial de todo este sucesso. Mas – absurdamente – não há em toda ficha técnica de “Planeta dos Macacos – A Guerra” nenhuma menção ao seu nome.

A história desde episódio mostra que os macacos comandados por César querem apenas um lugar para viver em paz, longe dos humanos. Na verdade, eles até já encontraram este lugar, mas para chegar até lá será necessário atravessar um vasto deserto, numa clara referência ao êxodo judeu do Velho Testamento. Tudo teria dado certo, não fosse a sede humana pela destruição de quem é diferente, sede esta catalisada pela traição de Winter, que faz uma delação premiada e entrega seu bando para o abate. César sobrevive à traição, mas sucumbe ao ódio, que ele próprio afirma ser incapaz de controlar. É neste jogo de ódios, vinganças, e de total incapacidade de se conseguir viver em paz – sejamos nós humanos ou símios – que o filme estrutura sua dramaturgia.

Como quase sempre acontece, o longa se serve também de um vasto caldeirão de referências culturais e cinematográficas. São vinganças familiares no melhor estilo faroeste, capacetes com mensagens de ódio a la Stanley Kubrick, ligações diretas com os campos de extermínio da Segunda Guerra, e até uma brincadeira com Coppola através de um muro pichado onde se lê “Ape-calipse Now”. Em determinada cena, discute-se como é estúpida a ideia da construção de um grande muro contra invasões, pensamento que cabe tanto para Donald Trump como para Ariel Sharon.

Destaque também para um marcante merchandising da Chevrolet que – via mecanismos de marketing – se apropria do nome da personagem Nova (Amiah Miller, ótima) com requintes de crueldade mercadológica. Quem conhece o filme pioneiro da saga sabe que tanto Nova como o pequeno Cornelius terão papeis importantes nos próximos episódios.

E a lamentar somente o 171 que o sistema 3D se tornou. Ver “Planeta dos Macacos – A Guerra” em 3D é totalmente inútil, servindo apenas para explorar o bolso do consumidor e para estragar as cores e a luminosidade de sua bela fotografia. Verdadeiro caso de Procon.

A estreia no Brasil é dia 3 de agosto.