“INVASORES” ABORDA IMOBILIDADE SOCIAL BRASILEIRA.

Por Celso Sabadin

Depois de “Casa Grande” e “Que Horas Ela Volta?”, mais um filme vem para abordar aspectos de um país em mudança. Desta vez, porém, sem empregadas domésticas, nem filhinhos de papai. “Invasores”, de Marcelo Toledo, retrata um grupo de jovens da classe baixa que perambula pela noite paulistana pichando prédios, cabulando aula, ou simplesmente fazendo nada. A principal ocupação de Nilson (Maxwell Nascimento), Sharise (Rita Batata) e Jamais (Fábio Neppo) é matar o tempo, entorpecidos que estão por uma vida vazia, supostamente sem futuro, fazendo da pichação seu protesto silencioso contra uma sociedade dita burguesa que, a priori, não lhes abrirá porta alguma. Portas que, por outro lado, os jovens tampouco se preocupam em procurar a chave.

Tal estado de letargia é quebrado pela presença de Claudia (Emanuela Fontes), namorada de Nilson, que estuda para um exame que poderá lhe dar uma vaga no curso de piano na Universidade de São Paulo. Ou tenta estudar, já que a garota não tem piano.

Assim como acontece em alguns filmes brasileiros recentes, Claudia sofre preconceito por tentar ascender social e culturalmente através de uma profissão pouco ou nada identificada com sua condição. Mas assim como não acontece em alguns filmes brasileiros recentes, aqui o preconceito, a hostilidade, não parte de nenhuma patroa, de nenhum representante da classe dominante, mas sim de seus iguais. E talvez resida neste ponto o principal mérito de “Invasores”, o de abordar como as classes dominantes foram tão eficientes na disseminação de uma ideia de imobilidade social, que conseguiram incuti-la fortemente nas classes dominadas.  Percebe-se aqui uma parcela de uma juventude que vê na tentativa de melhora de vida um ato de aburguesamento, de traição contra suas próprias raízes de humildade e, consequentemente, passível de agressão. É o preconceito gerando preconceito que gera preconceito, tudo em nome de uma intolerância fortemente interiorizada e não questionada.

Em “Invasores”, quem estaria, afinal, invadindo a casta social de quem?  Qual seria a maior invasão? Pixar escondido as paredes de um centro cultural, ou nele adentrar pela porta da frente?

Com roteiro original da Ana Paul, Marcelo Toledo (o mesmo de “Corpo Presente”) dirige “Invasores” dentro de um estilo minimalista e introspectivo que tem se tornado recorrente num novo cinema brasileiro muito aplaudido em festivais e pouco visto pelo grande público. Um filme a ser descoberto. E refletido.