“INVENCÍVEL”, INACREDITÁVEL E INTERMINÁVEL.

Por Celso Sabadin.

Saio da sessão de “Invencível” com a sensação de que Louis Zamperini foi um baita mentiroso. Teria realmente ele passado por tudo aquilo que o filme mostra? Inclusive aquela história dos tubarões (calma, não vou contar)? Talvez “Inacreditável” fosse um título mais coerente que “Invencível”, mas, enfim, não estamos aqui para questionar a veracidade do roteiro. Mesmo porque a gente vê cada coisa na vida real..!

A partir do livro de Laura Hillebrand (a mesma autora do livro que gerou o filme “Seabiscuit”), a diretora Angelina Jolie reproduz a incrível trajetória de Louis Zamperini, filho de imigrantes italianos estabelecidos na Califórnia, adolescente irriquieto  que conseguiu superar seus problemas de adaptação através de dois caminhos praticamente antagônicos: o esporte e a Segunda Guerra Mundial. Como? Melhor não explicar. Aliás, melhor nem ver o trailer, nem ler a orelha do livro: deixe as surpresas (que não são poucas) para a hora de ver o filme.

“Invencível” abre com uma empolgante cena de uma esquadrilha de aviões B-24 bombardeando o Japão e sendo atacada por caças inimigos. É um show de cinema de aventura, com tudo o que a mais moderna tecnologia digital pode proporcionar. Com montagem eletrizante, ação ininterrupta e ótima exploração do drama humano diante de situações limites. Procure sentar-se bem no meio do cinema e aprecie o fantástico trabalho da edição de som. Na medida em que a cena se desenrola e tira o nosso fôlego, flashbacks vão nos posicionando a respeito do histórico do personagem principal.

A cena inicial é tão magnética que algumas “barrigas” (tempos mortos e/ou excessivos) que acontecerão a seguir se tornarão ainda mais visíveis e sensíveis do que normalmente seriam. Compreende-se o estendimento excessivo destes tempos em função da dramaticidade que as cenas procuram alcançar, potencializando o sofrimento do personagem, mas mesmo assim um bocejo ou outro se torna inevitável durante os quase 140 minutos de projeção de “Invencível” (que em alguns momentos poderia se chamar “Interminável”).

Chama a atenção ainda o fato do roteiro – dos mais convencionais e clássicos – ter sido coescrito pelos irmãos Joel e Ethan Coen, aplaudidos exatamente por serem autores de roteiros criativos, provocadores e anticonvencionais, como “Arizona Nunca Mais”, “Fargo”, “O Homem que Não Estava Lá” e tantos outros. O convencionalismo do roteiro acaba sendo compensado por uma produção de primeiríssima linha que garante reconstituições de época de encher os olhos, e principalmente por uma eficiente construção de personagens, que gera a tão necessária empatia com a plateia.

Curiosidade: apesar do livro só ter sido publicado em 2010, a Universal comprou os direitos cinematográficos para filmar a vida de Zamperini ainda em 1957, quando pretendia que Tony Curtis interpretasse seu papel.