INVENTIVO “BAIT” HOMENAGEIA VANGUARDAS ANTIGAS COM TEMA ATUAL.

Por Celso Sabadin.

Uma pequena vila de pescadores na Cornualha, Inglaterra, está longe de viver seus melhores dias. Não há mais peixes em abundância, como antigamente, e alguns moradores são obrigados a se reinventar, largando a pesca para se dedicar ao turismo.

A transição é dolorida, pois não envolve apenas questões de mercado. Há também tradições familiares, hábitos, sentimentos e relacionamentos delicados que precisam ser levados em consideração em mais esta agressão do capital sobre a cultura, sintetizada na cidadezinha. Um clima de micro guerra civil se instala por ali.

Além do tema em si – urgente e importante – “Bait” apresenta um fascinante exercício de estilo cinematográfico, buscando referências visuais no cinema independente dos anos 1960. Filmado em um nostálgico preto e branco 16 mm revelado manualmente, assumindo os ruídos como linguagem, e trabalhando com cortes, enquadramentos e texturas da época, “Bait” mimetiza uma antiga vanguarda esquecida que já não existe mais nesta nossa contemporaneidade asséptica. Ou pelo menos não existia.

Se os bons e velhos tempos de peixes em profusão não existem mais, que voltem pelo menos os bons e velhos tempos em que o cinema buscava sua própria reinvenção estética, alheio às pressões do mercado.

“Bait” tem roteiro e direção do inglês Mark Jenkin, cineasta já com 20 anos de estrada (principalmente em documentários e curtas), e que consegue agora uma visibilidade maior graças às indicações e premiações obtidas neste seu novo trabalho. Principalmente o de “Outstanding Debut” no Bafta 2019. Mesmo “Bait” não sendo seu debut.

Destaque para o sarcasmo da cena em que um turista – que visita o lugar pelo charme dele ser uma bucólica vila de pescadores – reclama que os pescadores se levantam muito cedo para pescar, e atrapalham o seu sono de turista.  Very British!