INVESTIGAÇÃO POLICIAL À FRANCESA, “A NOITE DO DIA 12” EVITA OS CLICHÊS DO GÊNERO.

Por Celso Sabadin.

Mais de 20 anos após vencer o César de melhor direção por “Harry Chegou para Ajudar”, o diretor alemão Dominik Moll repete a dose no César 2023 com seu novo trabalho, “A Noite do Dia 12”. E não só isso: além de melhor direção, o longa também venceu em mais cinco categorias, incluindo a principal, sagrando-se como o grande vencedor do ano nesta que a maior premiação do cinema francês..

Além do César de direção, Moll ganhou também por este filme o troféu de roteiro adaptado – que divide com Gilles Marchand – a partir do livro que a escritora francesa Pauline Guéna publicou a respeito de um caso real ocorrido em 2020.
O tema é dos mais urgentes e importantes: o feminicídio.

Em “A Noite do Dia 12”, o cinema francês explora com muita competência um estilo cinematográfico bastante utilizado pela produção audiovisual norte-americana: a investigação policial. Aqui, com a vantagem de deixar de fora todas aquelas correrias e perseguições insossas que os estadunidenses tanto prezam, para focar no que realmente importa.

Tudo começa com o misterioso desparecimento da jovem Clara (Lula Cotton-Frapier), logo após ela sair de uma reunião em casa de amigos. O caso cai nas mãos de Yohan (Bastien Bouillon), um detetive de polícia minucioso e perfeccionista, que não consegue aceitar a falta de evidências que marca a investigação. Depoimentos desencontrados, pistas falsas, a falta de interesse da mídia, tudo contribui para que o caso de Clara seja apenas mais um entre os tantos arquivados sem solução pelo poder público.

O diretor afirma que partiu do livro de Guéna, que acompanhou por um ano uma equipe de polícia em Versalhes que investiga crimes diversos, mas optou por adaptar para o filme apenas um dos casos. “Ela conta esse caso de uma jovem que foi incendiada a caminho de casa, e se tornou a obsessão de um dos detetives. Confesso que hesitei pela natureza sórdida do crime, mas após ler algumas páginas, a história começou a me assombrar, como assombra ao investigador”, diz Moll.

Nesse sentido, ele explica que uma das questões centrais do longa é a relação entre homens e mulheres. “Não é exatamente um ponto da obra dela, mas o fato de ela ser uma mulher observando homens trabalhando é um fator que se impôs a nós. E muitos casos são de feminicídio”, conclui o direto.

Para realizar “A Noite do Dia 12”, além do trabalho da polícia descrito por Guéna, em seu livro, Moll contou com o apoio da polícia de Grenoble, que permitiu ao cineasta uma imersão nesse mundo, vendo de perto como eles trabalham. “Passar um tempo com eles me permitiu ser mais preciso e verdadeiro no tom do filme, conseguindo assim evitar uma espetacularização falsa do trabalho ou a busca por artificialismos. Isso me permitiu estar mais próximo do lado humano, o desconforto e a paixão que pode guiar os investigadores.”

Para efeito de marketing, “A Noite do Dia 12” estreia nos cinemas do Brasil excepcionalmente nesta quarta-feira (e não numa quinta, como é o habitual), para “aproveitar” o dia 12 ao qual o título se refere.