“IRMÃOS À ITALIANA”, SENSIBILIDADE À LUZ DA CRISE POLÍTICA.

Por Celso Sabadin.

O nome pode até sugerir um filme cômico (principalmente para quem vivenciou a era de ouro da comédia italiana, momento em que vários títulos de filmes recebiam aqui no Brasil o complemento “à italiana”), mas “Irmãos à Italiana” está bem longe disso. Pelo contrário: a partir de um caso real, o longa apresenta um intenso drama humano de fundo político, capaz de prender a atenção do público da primeira à última cena.

O roteiro de Enrico Audenino e do próprio diretor – Claudio Noce – é baseado na trajetória verídica de Alfonso Noce, chefe de polícia de Roma que em 1976 foi jurado de morte pelo grupo extremista NAP – Nuclei Armati Proletari. O sobrenome em comum não é coincidência: Claudio Noce é filho de Alfonso, que no filme tem seu nome mudado para Alfonso Le Rose, e é interpretado pelo ótimo Pierfrancesco Favino – Melhor Ator em Veneza por esse filme –  o mesmo de “O Traidor”. O personagem que representa Claudio também tem seu nome trocado: aqui ele é Valerio, vivido por Mattia Garaci, também ótimo.

Acima até da questão política, o filme é sensivelmente humano, posto que é totalmente narrado pelo ponto de vista do garoto. O espectador é brilhantemente conduzido através das dúvidas e inseguranças de um menino repentinamente colocado no meio de uma situação complexa da qual lhe são sonegadas informações para que ele possa desenvolver uma mínima compreensão do todo. As lacunas são, assim, preenchidas pela imaginação infantil, ao mesmo tempo em que brotam fantasias sobre o relacionamento com seu pai, que diante de seus olhos ora assume a condição de vilão, ora de herói.

Em tempo, o título original de “Irmãos à Italiana” é “Padrenostro”, que também poderia passar a falsa ideia de um filme religioso. Não é fácil traduzir títulos para o português, não.

Estreia nesta quinta, 22 de julho.

 

21/07/2021