IRREGULAR, “FINALMENTE LIVRES” TENTA MISTURAR DRAMA, ROMANCE E COMÉDIA.

Por Celso Sabadin.
 
A trama de “Finalmente Livres” se apoia na ótima atriz Adèle Haenel, de “A Garota Desconhecida”, que também está no recente “Retrato de uma Jovem em Chamas”. Ela interpreta Yvonne, a jovem viúva de um policial morto em ação e tido como herói em sua corporação. Todas as noites ela entretém seu pequeno filho com histórias edificantes e aventureiras sobre o pai do menino, prematuramente morto. Até o dia em que ela fica sabendo que o falecido marido era, na verdade, um policial corrupto, que entre outros crimes levou para a cadeia um homem inocente. Agora Yvonne tentará reparar um erro que sequer foi dela para tentar prosseguir sua vida sem culpas. Acredite ou não, a divulgação mundial de “Finalmente Livres” estampa em seus cartazes a frase “A comédia do ano”.
 
Assinado por Benjamin Charbit, Benoît Graffin e pelo próprio diretor Pierre Salvadori, o roteiro de “Finalmente Livres” atira para todos os lados, tentando construir uma narrativa cômica para uma história trágica, ao mesmo tempo em que não abre mão do drama e conduz seus personagens pelos caminhos do romance. Tudo sob um pano de fundo policial. Nada contra, mas misturar diferentes gêneros cinematográficos dentro de um mesmo filme não é tarefa fácil. O cinema sul-coreano, por exemplo, tem dado verdadeiros banhos neste sentido, produzindo excelentes longas que transitam com total desenvoltura entre comédia, drama, terror, crítica social, e por aí vai. Mas poucas cinematografias no mundo conseguem tal façanha.
Assim, “Finalmente Livres” acaba sendo irregular. O filme até consegue – aqui e ali – produzir algumas boas cenas individuais esparsas. O assalto à joalheria, por exemplo, é divertido, e a maneira como o garoto, em seu rito de crescimento, resolve a relação com o pai ausente é das mais emocionantes. Mas o conjunto é dissonante, o roteiro caminha aos trancos, e a sensação final é a de uma colcha de retalhos.
 
Os franceses gostaram: além de ter sido exibido em Cannes, “Finalmente Livres” foi indicado a nove prêmios Cèsar, incluindo um inacreditável de Melhor Roteiro Original.