IRREGULAR, “ORQUESTRA DOS MENINOS” DESPERDIÇA BOA TRAMA.

Uma ótima idéia. Mas dirigida com total irregularidade. Assim é “Orquestra dos Meninos”, novo filme do diretor Paulo Thiago, o mesmo de “Policarpo Quaresma” e “Vagas para Moças de Fino Trato”. O argumento original é um verdadeiro achado, alinhavando fatos acontecidos nos anos 90, no interior de Pernambuco. Embora na trama, provavelmente para evitar processos e/ou retaliações, alguns nomes foram trocados e a ação foi transferida para Sergipe. Não importa. Interessa sim acompanhar a história real do maestro Mozart
Vieira, um sonhador que contra tudo e contra todos embrenhou-se na difícil tarefa de montar uma orquestra sinfônica de crianças e jovens em pleno interior de Pernambuco (na realidade) ou de Sergipe (na ficção).

Visionário, sinhador e otimista, Mozart (ótima interpretação de Murilo Rosa, que dá força e vigor ao personagem) cometeu, porém, um pecado quase mortal para ele e para a sua carreira: meteu-se na política, este câncer incurável que destrói tudo o que toca. Fez alianças com o candidato a governador, atraiu para si a ira do prefeito (Othon Bastos, em mais um momento careteiro de sua carreira), suscitou desconfianças morais, e sentiu de perto a podridão das máquinas governamentais.
Romance, traição, política, música, sonho, dedicação… enfim, um argumento repleto de elementos perfeitos para um grande filme.

Não rolou. “Orquestra do Meninos” aos poucos vai incomodando o espectador com uma lamentável série de defeitos e/ou imperfeições que ora beiram à ingenuidade, ora resvalam na preguiça. Como é possível, por exemplo, a orquestra inteira se espremer num estúdio, cantando e tocando para um único microfone pendurado no teto, para gravar um CD? Quem consegue levar a sério o personagem do delegado histriônico de óculos escuros que bate seu revólver na mesa da coletiva de imprensa, no melhor estilo “Zorra Total”? E a oficial de Justiça que, de dedo em riste, grita “Podem fechar a Fundação” como quem comando um exército de 300 espartanos? Isso sem falar no rápido flerte do maestro com a filha do dono da loja de materiais de construção, uma cena gratuita, dirigida com teatralidade, sem continuidade nem função dramatúrgica dentro do roteiro. Há defeitos menores como, por exemplo, estampar na tela um letreiro com a inscrição “meses depois…” ao invés de solucionar tal passagem de tempo cinematograficamente.

Detalhes? Talvez. Mas são muitos. Tantos a ponto de minar insistentemente a credibilidade do filme. Graças à força da história, porém, acompanha-se o filme até o seu final, com certo interesse. Já nos créditos finais, surge a boa idéia de inserir cenas reais daqueles que de fato protagonizaram a trama. O filme cresce, mas já é tarde. Talvez um documentário sobre o assunto tivesse melhores resultados.