“KING KONG EM ASUNCÍON”, O DIABO NA TERRA DO SAL.

Por Celso Sabadin.

Paraguai, Bolívia e Brasil unem seus esforços de produção para colocar na tela o roteiro do pernambucano Camilo Cavalcante sobre “King Kong em Asunción”, que estreia nesta qinta, 02 de setembro.  A referência ao gigantesco gorila do cinema norte-americano é simbólica: quando a América é a do Sul, os medos não surgem fantasiados de macacos. Pelo contrário, o horror por aqui é real, presente, diário. Inapelável.

Andrade Júnior interpreta um assassino de aluguel à beira da aposentadoria. Cumpridas as suas “obrigações profissionais”, agora o matador que se reencontrar com o seu passado, antes do seu encontro definitivo, provavelmente não com deus na terra do sol, mas com o diabo na terra do sal. O mesmo sal do incrível deserto boliviano que abre magistralmente o filme. O mesmo sal que não permite a cicatrização das veias abertas de uma América Latina marcada historicamente pela violência e pela injustiças sociais que só se perpetuam no ciclo vicioso tão bem demonstrado no longa.

Generosos planos abertos em harmonia com uma trepidante montagem de planos de medos e sufocos ratificam as dicotomias deste protagonista perturbado pela presença diária da morte que – como veremos – é sua companhia de vida desde a mais tenra idade. “Hoje é seu dia de sorte”, ouve o garoto futuro matador em seu maior dia de azar e terror, como que sublinhando a ferro e a fogo as incongruências desta nossa sofrida Latinoamerica.

“King Kong em Asunción” é o segundo longa ficcional de Cavalcante, que realizara “História da Eternidade” em 2014. São dele também os fortes documentários “5 Vezes Chico: O Velho e Sua Gente” (longa de 2015) e “Ave Maria ou a Mãe dos Sertanejos” (curta de 2009), entre outros.

O filme marca também um dos últimos trabalhos do ótimo Andrade Júnior, falecido em 2019.  “Príncipe do Gueto” e “ Batalha de Shrangri-lá”, com o mesmo ator, permanecem em fase de espera de lançamento.