“KUNG FU PANDA 3” MORDE E ASSOPRA.

Por Celso Sabadin.

É interessante, e chega a ser até divertido, analisar com mais vagar os filmes que necessitam sempre lançar sequências, para alimentar a franquia e vender mais brinquedos, lanches e camisetas. É o caso por exemplo deste “Kung Fu Panda 3”, que chega aos cinemas oito anos depois do primeiro episódio (sim, o tempo passa, como já dizia Fiori Gigliotti).

Neste terceiro longa, os roteiristas Jonathan Aibel e Glenn Berger (que também escreveram os dois primeiros filmes, mais “Monstros vc Alienígenas”, o longa de Bob Esponja e “Alivn e os Esquilos 2”, entre outros) contam que Mestre Shifu precisa fazer com que o confuso Po aprenda a dominar o Chi, um tipo de energia vital meio que na linha da “Força” de Star Wars. Mas seus planos são atrapalhados pela chegada de Li, o pai biológico de Po. Sim, para quem não lembra, Po não é filho biológico de Ping, mesmo porque Ping é um ganso, e não um panda. Li então leva Po para a cidade secreta dos Pandas, onde supostamente ambos deveriam retomar o rumo de suas vidas, interrompido pela trágica separação. Mas Po não poderá fugir de seu verdadeiro destino de guerreiro marcial. O que inclui tentar derrotar o poderoso Kai, um ser mitológico que fugiu do mundo dos mortos.

O filme é visualmente muito caprichado, com belas ambientações e uma concepção artística das mais atraentes. A trilha, obviamente recheada de motivos orientais, também agrada, mas o problema é o mesmo que assola a maior parte dos longas de animação: a mesmice do roteiro. Um roteiro que, desta vez, abusou do direito de ser esquemático. Não cheguei a ver o filme com um relógio na mão mas, caso alguém tenha a paciência de fazê-lo, seria interessante cronometrar como os roteiristas alternam, com precisão matemática, cenas e mais cenas de ação e lutas, se contrapondo a cenas e mais cenas recheadas daqueles ensinamentos típicos dos livros de autoajuda. Tanto as primeiras como as segundas com pouca ou nenhuma função dramatúrgica. Por um lado, o longa busca um verniz de filosofia oriental que não consegue ir além da profundidade de um biscoito da sorte. E por outro lado os produtores sabem que não se faz uma animação de sucesso sem pancadaria. O resultado parece, como diz a expressão popular, um bichinho que morde a assopra, que bate e faz carinho, que esquizofrenicamente mistura aventuras destrambelhadas com sabedoria de botequim, levando do nada para o lugar nenhum.

E, claro: novamente, a única diferença que o 3D faz é no bolso do consumidor.

“Kung Fu Panda 3” estreou dia 3 de março.