“L.S. LOWRY – RETRATOS DE UMA PAIXÃO”: A LUTA DE CLASSES DENTRO DE UM QUARTO.

Por Celso Sabadin.

É impressionante como atores e atrizes britânicos sempre dão verdadeiros shows de intepretação no cinema! Impressionante, mas não surpreendente, na medida em que a Inglaterra tem uma vastíssima tradição de teatro formadora de gigantescos talentos sobre seus palcos.

O filme “L.S. Lowry – Retratos de Uma Paixão” – estreando nesta quinta, 21 de abril, em plataforma virtual – mostra um esplêndido embate entre dois destes gigantes britânicos: Vanessa Redgrave e Timothy Spall.

A londrina Vanessa Redgrave está chegando aos 150 créditos em cinema e TV. Uma vasta carreira contemplada com mais de 50 premiações, incluindo um Oscar por “Julia”, dois prêmios de melhor atriz em Cannes, dois em Veneza e mais dois Globos de Ouro. Aos 85 anos, ela continua em plena atividade: o Imdb registra que há – pelo menos – mais quatro longas dela a serem lançados.

Vinte anos mais jovem, e chegando a 160 créditos de interpretações em cinema e TV, o também londrino Timothy Spall coleciona mais de 20 premiações, incluindo um prêmio de melhor ator em Cannes por “Sr. Turner”. Os mais jovens talvez o conheçam melhor como o Pedro Pettigrew de Harry Potter.

Em “L.S. Lowry – Retratos de Uma Paixão”, Timothy interpreta o papel título desta envolvente história verídica de um coletor de impostos que se dedica de corpo e alma a cuidar de sua mãe idosa (papel de Vanessa Redgrave). A única válvula de escape deste solitário protagonista é a pintura. O grande interesse de Lowry é a classe trabalhadora, que retrata em seus quadros em formas, cores e sentimentos tão tristes quanto ele próprio.  A arte de Lowry irrita e incomoda sua mãe, uma aristocrata decadente, amargurada e saudosa de seus anos de riqueza.

Os mais cruéis contornos representativos da eterna luta de classes se simbolizam e se solidificam no microcosmos daquela pequena casa de Lancashire, região operária da Inglaterra dos anos 1930.

Lowry diz ver beleza nos trabalhadores, chaminés e instalações industriais do lugar. Sua mãe prefere barcos velejando e naturezas mortas, e só consegue admitir alguma qualidade na arte do filho se houver validação de alguém que ela julgue de cultura superior. Os conflitos serão inevitáveis.

Além das já citadas excelentes intepretações da dupla central de protagonistas, “L.S. Lowry” traz um roteiro bem amarrado de Martyn Hesford (vindo da televisão, estreando em cinema) e direção eficiente de Adrian Noble.

Disponível em www.cinemavirtual.com.br