“LASCADOS” É COMÉDIA COM SOTAQUE PAULISTA, MEU.

Duas ótimas notícias: nem toda comédia brasileira é da Globo Filmes. Nem é interpretada pelo Leandro Hassun. “Lascados” pode não ser um filme de rolar de rir (e de fato não é), mas diverte com dignidade e bom humor, bem na contra mão de quem acredita que, para se fazer comédia no cinema (brasileiro ou americano, tanto faz), é necessário baixar o nível.

A trama é bem simples. Três amigos que acabam de passar no vestibular resolvem comemorar esta suposta “passagem para a vida adulta” fazendo uma viagem da Moóca a Salvador, onde pretendem curtir o Carnaval. Para isso, eles “pegam emprestado”, sem que a proprietária saiba, a Kombi-Lanchonete da mãe de um dos garotos. Começa assim um road-movie adolescente temperado com forte sotaque paulista, onde as piadas são mais para Palmeiras e Portuguesa que para Flamengo e Fluminense.

Há problemas, sim, claro. Alguns de roteiro, outros de ritmo. A cena com os policiais rodoviários, por exemplo, é desanimadora, e prenuncia que o filme seria um horror, mas aos poucos a química entre os personagens começa a funcionar, as situações passam a fluir bem melhor, o elenco se mostra entrosado e à vontade, e o resultado final acaba se transformando numa agradável surpresa.
Além disso, “Lascados” tem o grande mérito de tentar preencher a enorme lacuna que existe em termos de filmes brasileiros feitos para adolescentes, uma das grandes deficiências do nosso mercado.

Para os padrões brasileiros, o desenvolvimento do filme foi bem rápido. Em outubro de 2012, o jovem ator Manoel Batista toma coragem para levar o seu primeiro roteiro ao produtor Marcelo Braga, da recém-fundada Santa Rita Filmes. Três meses e dez tratamentos de roteiro depois, “Lascados” entra em pré-produção, com direção a cargo de Victor Mafra. As filmagens aconteceram entre junho e julho de 2013 em São Paulo, São Mateus e Conceição da Barra (Espírito Santo), sem participar de editais nem de verbas públicas, e já consegue distribuição para estrear agora em setembro de 2014. Uma trajetória, digamos, meteórica, empreendida por jovens profissionais sem os ranços dos entraves burocráticos, o que por si só já é digno de nota.

No elenco, José Trassi (ótimo como Burunga), Paulo Vilela (eficiente como Deco), Chay Suede (crível como Felipe), Paloma Bernardi (divertida como Cenilde) e Guilherme Fontes (cadê o “Chatô”, Guilherme, cadê?).