“LEMON TREE” EXPÕE O ABSURDO DOS CONFLITOS ÉTNICOS.

Lemon Tree é o título internacional da música que nós brasileiros conhecemos como Meu Limão, Meu Limoeiro. Exatamente a canção que abre o filme homônimo, que a distribuidora optou por deixar, aqui no Brasil, com seu título internacional mesmo, sem tradução. Talvez a decisão tenha sido acertada: o choque cultural que o filme mostra parece mesmo intraduzível.

Incrivelmente baseada num caso real, a história mostra Salma Zidane (a ótima Hiam Abbas, de A Noiva Síria), uma mulher solitária, de meia idade, que sobrevive na região da Cisjordânia fazendo compotas dos limões colhidos diretamente de seu belo pomar. Até que um dia muda-se para a casa ao lado Israel Navon (o bom estreante Doron Tavory), ninguém menos que o Ministro da Defesa de Israel. Obviamente, junto com ele mudam-se também câmeras de segurança, cercas de arame farpado, guardas, guaritas e uma estranha exigência: os limoeiros da vizinha Salma devem ser eliminados, já que eles poderiam servir de esconderijo para algum terrorista disposto a cometer um atentado contra Israel. O homem e o país. Forte, Salma não aceita a exigência e dá início a uma batalha judicial pelo direito de plantar limões em seu próprio quintal.

Obviamente, Lemon Tree é muito mais que um filme sobre limões e limoeiros. O que está em jogo é a resistência desta mulher árabe, acostumada ao sofrimento da região, mas que se recusa a abrir mão de suas (literalmente) raízes. E também de sua história, já que a plantação é uma herança do pai e já produz limões há 50 anos. As frutas são um simbolismo amargo (mas que produzem uma limonada que todos concordam ser deliciosa) dos descabidos conflitos culturais, raciais e bélicos que se estendem – como diz o próprio Ministro – há três mil anos. Entre os dois personagens conflitantes, surge um interessante pivô, uma luz de sabedoria e indignação, representada pela presença de Mira (a também estreante Rona Lipaz-Michael), esposa do Ministro.

Lemon Tree é uma ode à convivência pacífica. Foi produzido por uma anteriormente improvável união entre produtores franceses, israelitas e alemães. E é falado em árabe e hebreu. Dirigido por Eran Riklin (também de A Noiva Síria), o filme ganhou o Prêmio do Público no Festival de Berlim.

Sem querer estragar nenhuma surpresa, sua mensagem final é brilhante, ao mostrar com vigor cinematográfico que nos conflitos nos quais imperam a guerra e a intolerância, todos perdem. Menos, talvez, os advogados. E, por falar em conflitos, o filme faz duas referências ao futebol. Uma francesa, com a foto do jogador Zidane pendurada no quarto da casa da personagem que leva o mesmo sobrenome, e outra brasileira, com a nossa bandeira e a inscrição champion (campeão, em inglês), bordados no agasalho do advogado de Salma. Coincidentemente ou não.